Roze Aguiar
Especializanda em Gestão Pública e Sociedade
No outro lado de sua casa, entre a rua da Boa Esperança e da Consolação, é onde eu moro. Todos os dias, ao levantar, com frio, mesmo sem querer lavar o meu rosto, o sereno do amanhecer cuida desse detalhe.
Antes de sair para trabalhar, faço o sinal da cruz e peço a Deus que me abençoe durante aquele dia, para que Ele me dê forças para conseguir lutar pelo pão-de-cada-dia. No meu ambiente de trabalho, há uma competição tão grande para se encontrar um espaço, que é preciso dividir, além dos meus companheiros, com os ratos, porcos, moscas, baratas, cachorros e entre outros animais.
Às vezes quando passo por você, vizinho, tento lhe cumprimentar e você finge que nem me ver. E eu fico pensando: só porque estou assim, não tão cheiroso, cabelos compridos, barba por fazer ou será porque estou sem banhar há uma semana, vestido com roupas molambentas que um latão de lixo me presenteou no dia do meu aniversário? É por isso que gosto do meu amigo Totó, que mesmo estando nessa condição-alienante-humilhante, ele me cheira, me lambe e sempre fica feliz ao me vê.
No outro lado de sua casa, também tem um prédio enorme e bonito, tipo aqueles palácios construídos na Idade Média, quando passo em frente, vejo poucas pessoas, bem vestidas, falam uma língua desconhecida, e sempre andam apressadas, ocupadas demais que também nem me vêem quando estiro o braço para pedir uma moedinha. E vem outra dúvida: porque tem poucos deles e muitos de nós?
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