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Página específica para a 3ª edição do curso de especialização em Gestão Pública e Sociedade:

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

COMENTÁRIOS: efetividade VS produtivismo

Segue abaixo alguns valiosos comentários enviados por e-mail.


COMENTÁRIO 1

De:

admpubunesp@yahoogrupos.com.br em nome de Anderson Rafael Nascimento (anderson.rafa@terra.com.br)

Enviada:

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010 11:18:34

Para:

AdmPubUNESP@yahoogrupos.com.br



Olá, Edi.

Bom falar contigo!

Compreendo seus argumentos e percebo também a escassez e a inabilidade que
temos para o tempo livre. Alguns autores do fim do século passado
acreditaram que essa sociedade atual seria a "sociedade do tempo livre" e
essa brecha permitiria compreender uma nova relação no tempo e no espaço. O
tempo mostrou que não.

Contudo, para falarmos da política pública da educação atualmente
extrapolamos a visão do ensino. Infelizmente!. A dependência que as famílias
pobres têm da merenda escolar, por exemplo, é muito grande. Alimentar as
crianças é uma função da educação. Pensando nisso estar na escola é garantir
uma alimentação às crianças.

Estou na presidência de uma organização (Projeto Meninos e Meninas de Rua)
com atuação na região metropolitana. Digo isso porque compartilhamos o
"desespero" das famílias que tiveram seus filhos afastados por mais tempo da
escola em julho do último ano por conta da gripe A . Elas nos procuravam
para tentar noticiar as políticas públicas de assistência social, pois não
tinham mais recursos para comprar comida para os filhos. Vieram a nós,
mas foram também aos vereadores que por favores pessoais conseguiram cesta
básica e as mantiveram em baixo dos seus interesses clientelistiscos. Além
disso, mandaram seus filhos de volta às ruas para conseguir um trocado e
comprar comida.

Concluindo, acredito que estar na escola é importante. O questionamento é:
qual escola que queremos para essas crianças?

Abraços.

Anderson Rafael Nascimento
www.pensaragestao.org

--
Prof. Anderson Rafael Nascimento
http://www.card.ly/andersonrafa


Comentário 2


De:

Bernadete Aparecida Ferreira (bernadete_ap_ferreira@ibest.com.br)

Enviada:

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010 12:26:52

Para:




Oi Anderson e Benini,

Bom é inevitável e eu não pude deixar de ler.

Eu resumiria em dois desafios grandes aí:

- Como potencializar de forma lúdica, prazerosa e educativa o tempo livre, não só das crianças, mas das pessoas adultas também, que já não têm tempo livre e quando têm utilizam para dormir, para acessar internet, para "carregar outras pedras"?

- Seria mesmo a escola de tempo integral e com maximização da produtividade do tempo a melhor saída?

- Outro questionamento que podemos fazer: seria de fato o papel da escola alimentar as famílias e as crianças, ou essa não seria apenas tarefa complementar? A alimentação passa a ser tarefa das escolas porque o Poder Público, o Estado deixa de investir em políticas estruturais de segurança alimentar e nutricional e em políticas de emprego e renda para cada trabalhador e trabalhadora brasileiros e a família é uma unidade coletiva desempoderada e com auto-estima diminuida. Como poderemos pensar em acabar com trabalho infantil e clientelismos de vários matizes com as políticas compensatórias assumidas pelo Estado Brasileiro?

Só alguns questionamentos.

Berná


COMENTÁRIO 3


De:

admpubunesp@yahoogrupos.com.br em nome de Ralph Breitschaft Mendes (ralphmendes@yahoo.com.br)

Enviada:

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010 21:46:34

Para:

AdmPubUNESP@yahoogrupos.com.br


Olá Edi, meu nome é Ralph, sou da XVI Turma... Gostaria de dizer que as questões que você levantou a muito tempo me levam à reflexão, principalmente as que tratam dos indicadores que de certa forma "mascaram" a real situação da educação em nosso país.
Minha mãe é professora aposentada e ela sempre abominou a ideia de que o aumento de vagas na escola sem o devido planejamento e o crescimento do número de horas a que as crianças são obrigadas a ficar no ambiente escolar significam melhora na qualidade do ensino e conseqüente aumento de produtividade na aprendizagem.

Creio que a sua conclusão a respeito do aumento de popularidade dos governantes através da melhora destes "indicadores" é algo de fácil observação. Todavia, acredito que isso seja culpa também da cultura social que preza muito mais pelo aspecto quantitativo do que pelo qualitativo.
Faço aí um "link" com os moldes pelos quais são avaliados inúmeros projetos de pesquisa acadêmica. Normalmente são aprovados aqueles que podem trazer resultados "palpáveis", enfim, estatísticas, gráficos entre outras ferramentas que em muitos momentos não representam a realidade dos fatos.

Quantas vezes temos a oportunidade de presenciar a marginalização da pesquisa qualitativa sob o argumento de que esta tem grandes chances de ser inviezada e pouco confiável, como se uma tabela com dados e gráficos fossem os "messias" da pesquisa acadêmica?

Enfim, acredito que este fenômeno (que surge inclusive dentro da universidade, onde em tese as pessoas deviam se atentar mais a isso) seja facilmente transplantado para a sociedade em geral.
Quanto à situação citada pelo Anderson, posso dizer que é a pura realidade. A área da educação atualmente atua num setor que em teoria não seria de sua alçada. A alimentação na escola, que deveria ser apenas um complemento, muitas vezes acaba sendo a única refeição de muitas crianças, ou em outros casos, a presença das crianças na escola é fator preponderante para receber o dinheiro para se alimentar, política esta voltada para enriquecer os tais "indicadores".
Com isso posso desenhar o seguinte quadro:

O rápido retorno a escola garante a refeição de muitas crianças em dois casos: ou com a própria merenda, ou com a política de a criança estar presente em aula (o que não significa aprendizado) para receber uma ajuda de custo para se alimentar. Nesta situação obsrevamos o enriquecimento de dois "indicadores": Aumento nas horas de aula e aumento na distribuição de recursos para a alimentação. Números estes que serão encaixados em campanhas estruturadas por marketeiros aparentando uma suposta melhoria na área da educação, aproveitando-se da enorme aceitação que o uso de instrumentos quantitativos tem dentro da sociedade. Esta por fim, cada vez possui menor capacidade crítica para avaliar se tais "indicadores" representam a realidade, em virtude do sucateamento da educação pública, provocado em parte por esta forma de encará-la que já é utilizada a muitos anos, provocando uma espécie de ciclo vicioso, que pode se tornar fatal
para a educação brasileira.

Bom, posso estar exagerando (torço para que sim!), mas deixo este quadro como uma provocação para os colegas colocarem suas opiniões e enriquecerem o debate.

Abraços!

Ralph Breitschaft Mendes
XVI Turma de Administração Pública da UNESP - Araraquara



COMENTÁRIO 4


Olá, bom dia Anderson, Bernardete e Ralph

Creio que esse ponto é importante para o debate, até que ponto vale
a pena mesmo instrumentalizar a educação
ou para uma política
compensatório de insuficiência de renda (bolsa-familia),
ou para uma política de ascenção social (cotas) ou
para uma política de aumento da produção de mercadorias
(subordinação ao mercado)?

Não sou contra a necessidade de seres humanos de
segurança alimentar, de uma renda mínima e digna.
Não sou contra as pessoas quererem "vencer" na vida
por meio de um diploma e com isso "escapar" de séculos
de exploração e preconceito. Não sou contra técnicas e
instrumentos para aprimorar nossa produção industrial.

Mas a educação vale por suas "segundas ou terceiras" intenções?
Ou ela é um valor em si?

O que questiono é se esta estratégia, em larga medida
defendida também por vários setores progressistas da
nossa sociedade, está valendo a pena, está promovendo
a formação de sujeitos plenos, críticos, atuantes,
de uma sociedade justa, equilibrada, civilizada,
que avança e não retroage em "faíscas" crescentes de barbárie?

Talvez a bandeira não seja esta, a de vincular
o "pagamento da nossa divida social", legimita e,
repito, extremamente necessária, com políticas públicas
educacionais. Talvez a bandeira, a luta, o horizonte deveriam ser
(ou voltar a ser) o da universalização da educação pública,
da qualidade do ensino, melhores salários para todos
os professores, mais livros, bibliotecas, mais pesquisa,
desenvolvimento científico, mais professores, salas de aula
adequadas, com turmas não grandes o suficiente para virar
"palestra" e evitar a interação, o debate, metodologias
que valorizem mais o conteúdo, o ser, um conjunto bem articulado
de indicadores, e não uma ditadura de alguns poucos números
superficiais e insuficientes, a ditadura da forma... estou errado?

Abraços

Prof. Édi Augusto Benini -
Universidade Federal do Tocantins


COMENTÁRIO 5

De:

Bernadete Aparecida Ferreira (bernadete_ap_ferreira@ibest.com.br)

Enviada:

terça-feira, 26 de janeiro de 2010 19:31:47

Para:

Edi Augusto Benini (edibenini@hotmail.com)



Olá Benini, Ralph e Anderson,

Acho que o debate está bom, penso que deve sim entrar no blog.


Eu gostaria de acrescentar algo que há muito eu já vinha refletindo também nessa questão da produtividade e da quantidade de tempo e horas na escola para as crianças, com esse aspecto de que a criança na escola está protegida das ruas, das armadilhas da rua e também do trabalho infantil.


Vocês trazem à tona o aspecto dos marketeiros políticos que tudo utilizam com possibilidade de dividendo político, inclusive e principalmente a bandeira da "educação".


Acho legal a escola de tempo integral, em vários aspectos, principalmente em lugares onde não há políticas consistentes para a infância, adolescência e juventude, onde, supostamente, estas escolas ofereceriam as alternativas de arte, cultura e sócio-educação a que todos(a) têm direito.

Mas, volto a falar do desempoderamento da família e do habitat comunitário das pessoas, acrescentando a isso, além de tudo, a desvalorização de crianças e adolescentes enquanto sujeitos de escolhas, sujeitos de criações e decisões.


Diminuir o tempo livre, o tempo de férias, parece todo tempo querer nos dizer "diminuir o tempo de rua, o tempo de ócio, o tempo da pseudo-marginalidade" que representa cada criança pobre no imaginário inconsciente da classe empoderada, representada pelo Estado, pelos políticos, por quem pensa as políticas. Ser criança pobre é ser um marginal em potencial, por isso, escola!

Tirar das ruas, ou dos espaços comunitários sem a vigília dos que representam o poder e o saber, seria "prevenir a marginalidade potencial que cada criança pobre representa".


Veja os ricos, que vão às escolas privadas, tem no outro período e no tempo de férias alargado a chance de viajar, de ir ao cinema, de ir aos grandes parques, de jogar em casa seus jogos eletrônicos...


Os pobres estão sempre à mercê das ruas = escola de marginais.

Percebo há muito tempo uma discriminaçãozinha embutida nisso.

Ninguém pensa que somos nós educadores e os políticos e políticas brasileiros que não sabem ainda ver nos pequenos estudantes o/a sujeito/ ali existente e que nõs não sabemos mais lidar com os espaços não apropriados, com os espaços que seriam de liberdade; não sabemos lidar com a rua!


Por que será que a RUA fascina tanto as pessoas? Por que será que meu menino só quer viver na rua?


Por que será que meu filho quer tanto a liberdade...e tão logo manifesta isso, já temos medo de que ele seja um "um menino de rua" , um chamado "marginal", ainda mais ele sendo "preto". Todos me perguntam: não vai colocar na escola de tempo integral?


Então, toca escola nele...toca inflação de atividades nele, que é para ele não ter tempo de pensar a liberdade, olhar, gostar e preferir!


E eu, fico tentada...me sinto culpada e ainda minha auto-estima como educadora vai lá embaixo.

Vocês acham que estou errada em pensar essas coisas? Talvez os meus anos de trabalho com população de rua tenha me levado a assimilar esse desejo de liberdade e, às vezes, necessidade advinda da miséria.


Bernadete


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Efetividade Vs Produtivismo

Neste mês de janeiro um fato em particular me chamou atenção: crianças e adolescentes já estão iniciando o seu ano letivo!

Isso me faz lembrar dos 4 meses inteiros que a nossa geração tinha de férias - dezembro, janeiro e fevereiro, além de julho.

Aparentemente temos uma evolução, mais tempo de estudo e trabalho, menor tempo de ociosidade, logo, maior produtividade, qualidade de ensino e eficiência. Será isso mesmo?

Sobre a qualidade de ensino, apesar de aumentar os indicadores de aprovação (talvez fruto, em grande medida, de vários "artíficios" de gerenciamento escolar), outros indicadores mais diretamente relacionados ao conteúdo do aprendizado indicam desempenhos insuficientes. Não raramente vejo hoje alunos chegarem no ensino superior mal sabendo desenvolver um raciocínio crítico, ou pior, incapazes de produzir corretamente um texto acadêmico, ou seja, observamos graves seqüelas na formação básica dos nossos estudantes.

Há 20 anos ou mais, nos tempos de "4 meses de férias", provavelmente não se abrangia todo o conteúdo que hoje é disponibilizado aos alunos, porém, nas questões básicas e elementares do conhecimento, o rigor e o nivel de exigência eram incomparavelmente superiores. Todas as pessoas com mais de 30 anos de idade (imagino que foi exatamente nesse tempo que a reversão foi mais forte), e que estudaram nos escolas públicas, podem comprovar esta hipótese.

Nesse contexto, algumas considerações precisam ser evidenciadas para um debate mais aprofundado da questão.

Primeiro que tempo não está diretamente relacionado com qualidade de ensino. Obviamente que nosso corpo não é uma máquina, nossa cabeça não é um computador, no qual basta inserir mais e mais conteúdos. Há uma maneira diferenciada dos seres humanos "compreenderem" o mundo, pois há também interação, contatos, tato, trocas, vivências, meditações, etc. Mesmo a nossa concentração numa aula é limitada, e cada um tem o seu "tempo" de "decifrar" o mundo e conectar conhecimentos e experiências.

Se queremos formar pessoas plenas, íntegras, não apenas replicantes de alguns conceitos ou fórmulas já consagradas, mas sobretudo sabedores do contexto e da lógica que propriciou tais conhecimentos, sabedores e críticos do seu valor de uso, da sua utilidade, do próposito do conhecimento, e, por que não, de propósito de estar vivo, se queremos tal tipo de formação, não se pode reduzir todo o processo educacional a números, índices de aprovação e quantitativo de conteúdos. Trata-se de um produtivismo cego, que transforma pessoas em objetos. Exige-se mais quantidade sobre cada vez menos qualidade, exige-se mais dedicação ao mundo da produção material e menos espaço para um viver livre e pleno, é a tirania do superficial e da banalidade.

O tempo livre é um direito de todo o ser vivo, é o reino da liberdade, no qual fazemos o que preferimos ou desejamos, como seres humanos, e não o reino da necessidade, no qual abrimos mão de parcelas preciosas da nossa vida para viabilizar nossa sobrevivência neste tipo de sociedade (estudar para ter uma profissão, ter uma profissão para ter um emprego, ter um emprego para poder comprar os objetos necessários para a vida cotidiana e não padecer na "indigência").

Se considerarmos o sentido de "ser criança", tal elemento ganha ainda mais relevo. Eram nas férias escolares de "4 meses" que a gente se divertia, conhecia novos amigos, novas brincadeiras, novas experiências, novas leituras, enfim, "degustava a vida". Isso abria a mente, instigava a criatividade, criava o conhecer e o saber como uma deliciosa experiência de pertecer a este mundo. Por outro lado, os professores tinham mais tempo de férias, e com isso, além do merecido descanso, podiam ler e se preparar melhor essa nobre arte de educar. Em outras palaves, havia EFETIVIDADE na formação integral do pessoa, de um ser HUMANO!

O que vemos hoje das nossas crianças e adolescentes? Pouco tempo livre, pois há tantos e tantos compromissos... aulas e mais aulas, cursos, etc, etc... no tempo que resta, televisão, video games...

Fica a pergunta: A quem serve ou a quê vem o produtivismo hoje na educação?

Talvez para governantes aumentarem sua popularidade, por meio da melhoria de alguns "indicadores"... Talvez para aumentar o lucro de algumas empresas, pois mais tempo de "aula" é maior consumo de objetos... Talvez para aprisionar, ou mesmo evitar, o ensino e a prática críticos, pois estas requerem além de tempo, debates e interações... Talvez para consolidar a dominação, pois fomenta-se mais um "conhecer para produzir" do que um saber para viver com autonomia e liberdade...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Brasil será um país rico? Que riqueza é essa?

Segundo dados do IPEA (vejam notícia abaixo), o Brasil poderá, em 6 anos, se igualar aos países ricos em termos de diminuição da miséria.

Fica a dúvida até que ponto é realmente desejável tem os países dito "ricos" como referência, e o que significa riqueza? Somente aumento do consumo? E a qualidade de vida, justiça, liberdade, conhecimento, ecologia? Até que ponto nosso crescimento econômico é sustentável e trará, efetivamente, melhores condições de VIDA para as pessoas?

Brasil pode zerar miséria e se igualar a países ricos em 2016, diz Ipea

MARIANA SALLOWICZ
Colaboração para a Folha Online

Atualizado às 13h23.


O Brasil poderá praticamente zerar a pobreza extrema e alcançar indicadores sociais próximos aos dos países desenvolvidos em 2016, caso mantenha o ritmo de desempenho que teve entre 2003 e 2008. A conclusão é do estudo "Pobreza, desigualdade e políticas públicas", divulgado nesta terça-feira pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

A pobreza extrema é considerada para famílias com renda de até um quarto de salário mínimo per capita --atuais R$ 127,50.

Também há expectativa de alcançar uma taxa nacional de pobreza absoluta (até meio salário mínimo per capita, R$ 255) de 4% naquele ano, o que, segundo o Ipea, significa quase a sua erradicação. Em 2008, o índice estava em 28,8%.

"A taxa de pobreza de 4% é de país rico. Nos coloca no patamar de países desenvolvidos", afirmou Marcio Pochmann, presidente do Ipea. "O Brasil reduziu o número de pobres pela combinação de elementos como o crescimento econômico e políticas públicas de distribuição de renda. Temos hoje uma estrutura social comparável aos países desenvolvidos."

Desigualdade social

A queda da média anual na taxa nacional de pobreza absoluta foi de 0,9% ao ano entre 1995 e 2008, enquanto a da pobreza extrema ficou em menos 0,8% ao ano. Considerando o período de 2003 a 2008, a redução na primeira foi de 3,1%, e na segunda ficou em 2,1% ao ano.

O índice Gini, que varia de zero a um e é usado para medir as desigualdades sociais, deverá passar para 0,488 --era de 0,544 em 2008. Ele encontra-se, em geral, abaixo de 0,4 nos países desenvolvidos. Em 2005, ficou em 0,33 na Itália, 0,32 na Espanha, 0,28 na França, 0,27 na Holanda, 0,26 na Alemanha e 0,24 na Dinamarca. Já nos Estados Unidos está acima dos demais, em 0,46.

Para o Ipea, parte significativa dos avanços alcançados pelo país no enfrentamento da pobreza e da desigualdade está relacionada a políticas públicas, a partir de 1988 -- data de elaboração da Constituição Federal.

Na década atual, o instituto destaca razões como a combinação entre a continuidade da estabilidade monetária, a maior expansão econômica e o reforço de políticas públicas, como a elevação real do salário mínimo e a ampliação do crédito popular.

"O país fez políticas de distribuição. Passou a arrecadar mais e também distribuiu mais, o que reduziu a pobreza. Porém, ainda precisa combater a desigualdade e, para isso, deverá haver uma mudança na estrutura tributária, que atualmente faz com que os mais pobres paguem mais impostos", avaliou Pochmann.

HAITI: DESESPERO E ESPERANÇA

Como não se comover com as imagens e o drama pelo qual está passando o povo haitiano? Um país mergulhado no desespero das tragédias, das exclusões, da desigualdade e que carrega o estigma de ser o país mais pobre do novo mundo, a América. As lágrimas, a dor e o sofrimento diante dessa tragédia sem proporções que abateu o Haiti, nos deixa, enquanto latino-americanos, perplexos, chocados, sem acreditar que um país tão sofrido tenha mais uma realidade de desespero. Muitos perguntam: Por que o Haiti?

Segundo o Presidente do Haiti, René Préval, há uma estimativa não-oficial que pode contabilizar mais de 100 mil mortos diante do terremoto que arrasou a capital Porto-Príncipe. Muitos prédios públicos e de cooperação internacional desabaram diante dos fortes tremores, entre eles, a residência presidencial, o parlamento haitiano, o prédio da ONU, a Universidade Nacional, a Catedral, Hospitais, Escolas, casas etc. Muitos estão desaparecidos nos escombros. O aeroporto também foi danificado o que impede com que as ajudas humanitárias internacionais possam entrar no país rapidamente. Há relatos de corpos espalhados pelas ruas, falta água, comida e assistência médica.

No Brasil, muitas famílias estão esperando notícias de brasileiros e brasileiras que servem ao povo haitiano como voluntários de ONGs e do exército brasileiro que participa da força de paz da ONU. Há uma estimativa de que onze brasileiros militares foram mortos nessa tragédia, além da Drª. Zilda Arns, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança no Brasil que estava no Haiti a convite da Conferência dos Religiosos do Haiti para palestras, provavelmente, sobre a experiência da pastoral da criança. Ela é um exemplo de vida, de luta e de amor às crianças.

Há uma comoção internacional com os mortos, feridos e o povo haitiano que sofre há décadas com desastres naturais incompreensíveis aos olhos humanos. Segundo alguns relatos, o país está destruído. O Brasil anunciou por meio do Ministério de Relações Exteriores a ajuda imediata de 15 US$, o Fundo Emergencial das Nações Unidas anunciou mais 10 US$, a Alemanha com 1,5 US$, a União Européia com 4,5 US$. Além da promessa de muitos países se comprometerem a ajudar com alimentação, água, equipamentos médicos e pessoal humano.

O Haiti é um país que deverá ser reconstruído pelas mãos dos próprios haitianos e, também, com a cooperação fraterna de outros países. Todos os países têm problemas e dificuldades, mas, não se compara com o que passa há tempos o povo haitiano. A miséria é uma realidade subumana que deve ser extinta do imaginário desse povo alegre e festeiro. Curiosamente, o Brasil se apresenta como um país solidário, fraterno e que sabe partilhar o que tem. Espero, sinceramente, que o exemplo conquiste outros como o próprio Estados Unidos da América que desperdiça bilhões de dólares com armas e com a engenharia da guerra no Iraque e Afeganistão, mas que, ainda, deve aprender o espírito da solidariedade, da fraterna partilha e da cooperação internacional.

Diante desse desastre e do momento de desespero, não podemos perder a esperança. Talvez tenha chegado o momento de olharmos com mais humanidade para o Haiti. Diante do desespero a esperança poderá surgir, em especial, quando vemos o mundo chorando e se solidarizando com o povo haitiano. Os momentos de sofrimento e de dor, em certo sentido, também são pedagógicos. Aprendemos com o sofrimento e a dor. Evidentemente que o povo haitiano não merecia, mas, ainda não temos tecnologias para controlarmos a natureza e os abalos sísmicos das placas tectônicas. Mas, temos nossa humanidade. A reconstrução depende dos haitianos, mas também, da cooperação internacional de países como França, Inglaterra e Estados Unidos que fazem jorrar dólares para os banquetes da guerra e que agora podem fazer jorrar leite e mel para um país mergulhado na desgraça. E os yanques têm uma divida histórica com o povo haitiano.
A esperança é que possamos ver um país que está na desgraça alcançar a graça. A graça de ter uma sociedade mais justa, solidária e igualitária para todo um povo que há séculos vivem nos porões da vida e da indignidade humana. Para isso, os países ricos e emergentes deverão abrir seus corações e seus cofres para ajudar um país que se encontra no desespero. Já dizia um velho provérbio: Faça ao outro o que queremos que façam a nós! Assim, a esperança há de vencer o momento de desespero desesperançosa que abate a todos nós. Mas existe outro caminho que não queremos: manter o Haiti no submundo, na marginalização forçada e na desumanidade imposta pelas grandes forças econômicas do globo. Agora chegou a hora de gastar dinheiro, com seres humanos, com um povo. Se quisermos mudar os velhos paradigmas absolutos do espírito do capital para novos paradigmas do espírito da emancipação humanitária, o momento é agora. Viva o Haiti que chora seus filhos e filhas. Mas, todos somos Haiti neste momento e com ele aprenderemos como ser mais humanos e solidários.

Claudemiro Godoy do Nascimento
Filósofo e Teólogo. Mestre em Educação/Unicamp. Doutor em Educação/UnB. Professor da Universidade Federal do Tocantins – UFT/Campus de Arraias.
E-mail: claugnas@uft.edu.br / claugnas@yahoo.com.br

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O homem: refém de sua armadilha

A globalização traz uma dicotomia entre os processos bons e ruins da vida de um ser humano. A dinâmica do desenvolvimento que veio do ocidente e que difundiu no mundo inteiro trouxe grandes impactos na nossa sociedade. O planeta é irrigado pelas comunicações onde podemos estar longe e perto ao mesmo tempo de qualquer lugar do mundo.

Entretanto, as classes mais vulneráveis são as mais prejudicadas com a intoxicação da tecnologia civilizacional. Pois, o consumo demasiado do supérfluo vem de uma poluição estimulada pela propaganda. O que se tem hoje não serve mais para amanhã. Tudo é fabricado de um modo que seja descartável, justamente para suprir a necessidade da venda, da austeridade do capitalismo selvagem. Logo que se produzirem produtos de qualidade, como cresceriam no mar das concorrências produtivas? Como estariam nos rankis das vendas mundiais? Como manteriam a sua empresa com tecnologias cada vez mais avançadas para arraigar os seus lucros excessivos para se tornarem potentes?

O desenvolvimento técnico não traz todas as virtudes que deveriam trazer. A modernização, a pós-modernização e o poder material aniquilam a essência da vida. A crise Sistêmica, Política e Planetária entrelaçam uma na outra que não se consegue mais prosperar a humanidade. O homem torna se apenas um objeto de seus desejos incondicionais, aprisionando-se sob uma sociedade material.

Podemos dizer que a miséria hoje é o jogo do individualismo, quem faz mais tem mais, quem produz mais tem mais, quem vende mais tem mais. E a miséria social é a ganância abrasadora em nossa atualidade, é a febre da corrupção que arde como fogo nos meios das autoridades políticas, é a falta de cultura de olhar para o lado e não enxergar o outro, é a má administração das políticas sociais que agem com o mínimo do mínimo, é o agir sem sentir, é o pensar sem ponderar.

Autoria: Suely da Silva Gonçalves Lima

sábado, 9 de janeiro de 2010

O que esperar das eleições de 2010 - por Plinio de Arruda Sampaio


Aparentemente, a eleição presidencial do próximo ano não terá maior significado, posto que os programas dos partidos que disputarão a Presidência da República com maiores chances de vitória, são muito semelhantes. Tudo não passará, portanto, do âmbito da luta entre facções de um mesmo bloco político. Em outras palavras, uma eleição tranquila para o establishment burguês.


O único (embora remoto) risco que a burguesia corre, é o de que ocorra, em 2010 alguma alteração brusca nos ventos que sopram do mercado mundial e que responde pela a limitada marola de prosperidade que ganhou o imaginário do povo. Nesta hipótese, haverá dificuldades econômicas e o novo governo terá de abrir o “saco de maldades” para pagar a conta das liberalidades de 2009. Se o povo for exposto a um debate sério na campanha eleitoral, poderão surgir dificuldades.
Por isso, seguindo o conselho do velho Camões (“não tem perdão o capitão que devendo prever, não previu”), todos os cuidados estão sendo tomados diligentemente para que o debate eleitoral de 2010 não saia dos trilhos.
Balizada por uma lei eleitoral restritiva e dominada pelo poder econômico, a campanha deverá obedecer a um script rigoroso, que prescreve unicamente a possibilidade de “discussões técnicas” entre os candidatos: ou seja, um confronto de proposta técnica com proposta técnica, a fim de que os eleitores escolham a que mais lhes agrada. Desse modo, os verdadeiros problemas do país e suas respectivas soluções não virão à tona no processo eleitoral, a fim de não fornecer material combustível para a oposição de esquerda, caso venha a haver turbulência econômica em 2011.
Dois exemplos podem esclarecer bem a afirmação que está sendo feita: de acordo com o script, a discussão relativa à exploração do pré-sal deverá circunscrever-se à alternativa “técnica”: exploração pela Petrobrás ou por uma nova empresa a ser criada. Ora, a colocação do problema nesses termos retira do debate as verdadeiras questões que a descoberta do pré-sal desperta.
Estas questões são: convém contrair uma enorme dívida externa e provocar um inevitável grau de poluição do nosso mar territorial, para extrair um recurso cuja necessidade, a médio e longo prazos, não está devidamente estabelecida?
Além dessa preliminar, o verdadeiro debate sobre o Pré-Sal não pode escamotear outra questão essencial – uma questão, aliás, jamais levantada pelos nossos políticos, por incidir em um tema tabu: a inaceitável situação de desvalimento das nossas Forças Armadas. Uma vez que o limite do mar territorial brasileiro – fixado unilateralmente pelo Brasil a duzentos quilômetros do litoral – não é reconhecido internacionalmente, e tendo em vista que os depósitos de combustível estão localizados além do mar territorial reconhecido por todos os países (doze quilômetros), cabe a pergunta: dispomos de força militar suficiente para assegurar nossa soberania nessa área? Ou será que ignoramos o destino dos países militarmente débeis que atraíram a cobiça internacional para suas riquezas naturais? O Oriente Médio está aí, para evidenciar que não se trata de “teoria conspiratória” alguma. Afinal, quem explica porque os Estados Unidos reativaram a 4ª Frota e estão construindo seis bases militares na Colômbia?
Serra, Dilma, Ciro e Marina certamente não têm respostas para essas questões, ou melhor, têm, mas não podem explicitá-las.
A questão da terra encerrará outra mistificação. O discurso do establishment, celebrando as grandezas do agronegócio, tratará (com sutileza e sem sutileza) de desqualificar a distribuição de terras e os movimentos que a reivindicam. Não faltará intelectual conservador para justificar tamanho absurdo das propriedades que estão se formando com industriosos argumentos teóricos. Todos os candidatos da direita deixarão entrever que a reforma agrária é uma bandeira ultrapassada e nenhum deles alertará a população para os enormes prejuízos da anti-reforma agrária violentamente concentradora que o agronegócio está realizando a toque de caixa, com o beneplácito do governo Lula. A medida provisória 458, recentemente convertida em lei, entrega nada menos do que uma Alemanha e uma França somadas (67 milhões de hectares) aos grileiros de terras públicas – constitucionalmente destinadas ao assentamento de famílias rurais sem terra.
Convém ter claro, porém, que não é o grileiro o beneficiário último desta lei. O grileiro será apenas um intermediário. Sua função será a de vender – diretamente ou por formas transversas – as terras legalizadas pela nova lei a empresas que assegurarão o controle da economia exportadora de soja, cana de açúcar (para fabricação do etanol), carne bovina e madeiras de lei (extraídas na Amazônia) pelo capital dos grandes agronégocios. A soja alimentará o gado dos países desenvolvidos; o etanol, misturado à gasolina, permitirá que a indústria automobilística do primeiro mundo inunde as cidades com automóveis; a carne bovina satisfará o paladar refinado de europeus e norte-americanos; e a celulose responderá pela produção de papel higiênico e guardanapos de papel de alta qualidade, exigidos pelos consumidores do Primeiro Mundo.
Nenhum dos candidatos do establishment burguês, embora entitulem-se de centro e centro-esquerda, ousará denunciar que o ataque do agronegócio não se dirige propriamente às terras (à propriedade do solo agrícola), mas ao próprio território brasileiro, a fim de expulsar dele a população rural e de reduzir a soberania brasileira sobre a operação de uma gigantesca agricultura exportadora. Ninguém se proporá a explicar à população que esse avanço sobre terras que a Constituição reservou para o assentamento da população rural sem terra (seis milhões de famílias) responde à lógica interna de uma operação de dimensão planetária: a montagem de uma economia agrícola que estabelece o monopólio da produção de alimentos, sob o comando de meia dezena de mega transnacionais (Cargill, Monsanto, Sygenta, Dreiffus, Nestlé, etc). As escalas de produção exigidas por esse novo modo de produzir bens agrícolas são superiores às maiores unidades atuais e, portanto, exigem uma concentração de terra ainda maior do que a existente.
Assim como nos casos do pré-sal e da produção agrícola, o debate de todos os demais problemas reais do país – emprego, educação, saúde, habitação, segurança – esconderá, sob o disfarce da “discussão técnica”, a verdadeira essência dos mesmos.
Isto coloca para o segmento lúcido da cidadania a necessidade absoluta de articular uma candidatura que tenha condições de denunciar a farsa eleitoral e de expor, com clareza, bom senso e coragem, as soluções reais, que estão aí à disposição de quem quiser, para os problemas aqui elencados e todos os demais que tornam tão difícil e sofrida a vida do povo trabalhador.
Tal candidatura obviamente só pode surgir na esquerda. Ainda que esses partidos não disponham nem de longe dos meios de publicidade dos partidos da direita, o simples registro dessa voz dissidente contribuirá para a rearticulação do movimento popular e, na hipótese (não totalmente improvável) de que haja turbulências econômicas nos anos vindouros, para oferecer uma bandeira de luta à massa popular.
É indispensável, pois, que os setores sociais capazes de ver com lucidez o risco enorme que o país está correndo com a invasão do capital estrangeiro e a reprimarização da sua economia, apóiem um candidato de esquerda que apresente uma plataforma não capitalista, um discurso corajoso de denuncia e uma campanha claramente de defesa da causa popular.
Não há mistério algum na formulação dessa “plataforma do povo”. Como ensinou Marx, as soluções concretas para os problemas do povo encontram-se no interior desses mesmos problemas, de modo que todo o esforço programático consiste simplesmente e recolhê-las e obter apoio político para vencer resistências à sua efetivação.
Um candidato verdadeiramente popular conhece os problemas do povo por contato direto e orgânico com as organizações populares autênticas e, portanto, já chega na campanha com uma noção bastante clara a respeito de tais soluções. Bastará então fazer a articulação dessas aspirações populares com o pensamento teórico dos estudiosos das questões brasileiras para propor uma plataforma eleitoral compatível com as exigências do momento.

Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 30, de janeiro/2010, do Le Monde Diplomatique Brasil

Publicado também no blog "Azul Marinho com Pequi"