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Página específica para a 3ª edição do curso de especialização em Gestão Pública e Sociedade:

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

capitalismo e destruição ecológica

Para fomentar o debate, reproduzimos um fragmento do livro: A crise estrutura do capital - Istvan Mészáros, pg 51:


"(...) A sociedade "afluente" transformou-se na sociedade de "efluência" asfixiante, e a alegada onipotência tecnológica nem seque foi capaz de debelar a invaão dos ratos nas deprimentes favelas dos guetos negros. Nem mesmo a religião da odisséia no Espaço sentiu-se melhor, em que pesem os investimentos astronômicos que exigiu. (...)

Na imagem da onipotência tecnológica, é agora recomposta e novamente apresentada sob o disfarce do "interesse ecológico" universal. Há dez anos a ecologia podia ser tranquilamente ignorada ou desqualificada como totalmente irrelavante. Agora, ela é obrigada a ser grotescamente desfigurada e exagerada de forma unilateral para que as pessoas - impressionadas o bastante com o tom cataclísmico dos sermões ecológicos - possam ser, com sucesso, desviadas dos candentes problemas sociais e políticos. Africanos, asiáticos e latino-americanos não devem se multiplicar como lhes aprouver, dado que o desequilibrio demográfico poderia resultar em "tensões ecológicas intoleráveis". Em termos claros, poderia por em risco a relação social de forças predominante. Da mesmo forma, as pessoas deveriam esquecer tudo sobre as cifras astronômicas despendidas em armamentos e aceitar cortes consideráveis em seu padrão de vida, de modo a viabilizar os custos da "recuperação do meio ambiente"; isto é, em palavras simples, os custos necessários à manutenção do atual sistema de expanção da produção de supérfluos.

O fato de o capitalismo lidar dessa forma - ou seja, a seu modo - com a ecologia não deveria provocar a mínima surpresa; seria quase um milagre se não fosse assim. No entanto, a manipulação dessa questão em benefício do "moderno Estado industrial" não significa que possamos ignorá-la. O problema é suficientemente concreto, independente do uso que dele se faça nos dias atuais.

Na verdade, o problema da ecologia é real já há algum tempo, ainda que, evidentemente, por razões inerentes à necessidade do crescimento capitalista, poucos tenham dado alguma atenção a ele.

(...)

Afirmar que os custos da despoluição de nosso meio ambiente devem ser cobertos, em ultima análise, pela comunidade, é ao mesmo tempo um óbvio lugar-comum e um sbterfúgio típico, ainda que os políticos que pregam sermão sobre essa questão acreditem haver descoberto a pedra filosofal. Obviamente, é sempre a comunidade dos produtores que cobre os custos de tudo. Mas o fato de dever sempre arcar com os custos não implica de modo algum que sempre o possa fazer. Certamente, dado o modo predominante de controle social alienado, podemos estar certos que a comunidade não será capaz de arcar com tais custo.


Além disso, sugerir que os custos já proibitivos devam ser cobertos por um "fundo" (com o excedente do crescimento) (...) numa época de crescimento zero, ao qual se juntam desemprego e inflação crescentes - é pior que a retórica vazia de Feurerbah. Isso para não mencionar os problemas ecológicos adicionais necessariamente inerentes ao crescente desenvolvimento capitalista.

(...)

E, finalmente, argumentar que "ciência e tecnologia podem solucionar todos os nossos problemas no longo prazo" é muito pior que acreditar em bruxas, já que tendenciosamente omite-se o devastador enraizamento social (capitalista) da ciência e da tecnologia atuais. Também nesse sentido, a questão central não se restringe a saber se empregamos ou não a ciência e tecnologia com a finalidade de resolver nossos problemas - posto que é óbvio que devemos fazê-lo -, mas se seremos capazes ou não de redirecioná-las radicalmente, uam vez que hoje ambas estão estreitamente determinadas e circunscritas pela necessidade da perpetuação do processo de maximização dos lucros.

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