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Página específica para a 3ª edição do curso de especialização em Gestão Pública e Sociedade:

terça-feira, 26 de maio de 2009

DOS RACIONALIZADORES?

Texto para a disciplina "Metodologia Científica" (aulas dias 5, 6, 19 e 20 de junho):


DOS RACIONALIZADORES?

"O pensamento mutilado e a inteligência cega se pretendem e se julgam racionais."
Edgar Morin


A inteligibilidade de qualquer fenômeno só pode ser alcançada quando analisamos seu contexto. Afinal, o que não é construído? Haverá, portanto, metodologia mais apropriada que a “Discutibilidade”, entendida esta como processo dialético centrado no confronto?

Os racionalizadores fogem da dinâmica histórico-estrutural, como o diabo da cruz, por temerem, óbvio, o Todo. Privilegiam, assim, o calculável, o descritivo, o formalizável, o quantitativo. Particularizam, quebram as realidades como se estivessem num supermercado interpretativo de peças avulsas. Forjam um carnavalesco paraíso de experts no qual geram imbecis cognitivos. Esses indivíduos não percebem e negam a complexidade dos problemas humanos. A coisa é tão trágica que Morin, no terreno específico da filosofia, nos adverte: “A maior parte dos filósofos desdenha dedicar sua reflexão aos conhecimentos que modificam as concepções do mundo, do real, do homem etc. O mundo agoniza, e eles discutem o sexo de Édipo”.

Esse caos cínico, sedutoramente chamado “Pós-Modernidade”, nos destrói a socos no próprio pensar, degrada nossas relações, e eis os racionalizadores, imersos numa falsa racionalidade, se movendo mediante inteligência abstrata, artificial, tecno-burocrática, presos numa espécie de caverna mecanicista/determinista. Sua lógica analítica é incapaz de ultrapassar a ideologia “causalidade linear”. O mestre está correto: “A inteligência parcelada, compartimentada, mecanista, disjuntiva e reducionista rompe o complexo do mundo em fragmentos soltos, fraciona os problemas, separa o que está ligado, unidimensionaliza o multidimensional. Trata-se de uma inteligência ao mesmo tempo míope, presbita, daltônica, caolha; na maioria das vezes, acaba ficando cega.

É imperativo, destarte, que os racionalizadores entendam ser preciso rever suas posturas e adotarem a que conhecemos por “modelo racional”. Nesta práxis, a dialética, com todas as suas categorias, é imprescindível. Nela, predomina a consciência de que não há realidade sem a presença de “mistérios’, que, na vida, precisamos levar em conta dimensões como afetividade, subjetividade, mitos e, sobretudo, os interesses, muitas vezes velados, de uns sobre os outros.

O pensar correto, enfim, é racional (não racionalizador) porque se firma em dois paradigmas clarificadores: a contextualidade e a complexidade. Nos termos de Morin, “trata-se de buscar sempre a relação de inseparabilidade e de inter-retro-ação entre todo fenômeno e seu contexto, e de todo contexto com o contexto planetário”. De modo que seu fazer pauta-se pela qualidade, sem negar, claro, a quantidade.



Ary Carlos Moura Cardoso
Mestre em Literatura pela UnB
Pós-Graduado em Filosofia –UGF
Pós-Graduado em Administração da Educação,
Políticas, Planejamento e Gestão - UnB
Professor da UFT

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