“Quando saí do meu sertão do Bodocó, minha mala era um saco, meu cadeado era um nó.” (Lula, O Rei do Baião)
Com o sabemos as ideias desenvolvimentistas foram derrotadas com o Golpe Militar de 1964. A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, dominada pelo coronelato, foi corrompida e destruída. Neste período vivenciamos o que se chamou “Milagre Econômico”. A taxa de crescimento econômico de 1968/1973 atingiu 11,1% a.a., uma das maiores do mundo. Crescimento econômico com superexploração do trabalho, destruição da natureza e dos meios tradicionais de sobrevivência humana, como a pesca artesanal, não deve ser considerado desenvolvimento, isto é, progresso humano. Desenvolvimento requer justiça social e respeito ao ambiente. Nesta direção há no nordeste brasileiro (NE) um movimento que defende empreendimentos solidários apropriados ao semiárido. As práticas culturais do “Movimento Articulação Semiárido” poderão deter a expulsão dos pobres da região. Ao longo da história o NE tem abastecido os canaviais, os laranjais e as periferias urbanas do país com mão de obra barata, negra, branca e parda. Muitos são jardineiros, porteiros, pedreiros, catadores de lixo, empregadas domésticas, “pau para toda obra”. Os chamados bóias-frias podam mais de oito toneladas de cana/dia e, muitas vezes, morrem por exaustão física e mental. Mesmo assim ouvimos dizer que os nordestinos estragam S. Paulo, ou seja, vítimas da superexploração são considerados culpados da miséria. Causas políticas e estruturais explicam a situação de extrema pobreza do NE. A história tem demonstrado que as grandes obras hídricas não resolvem o pauperismo e a concentração de renda, geram grandes lucros para os coronéis, as empreiteiras, os produtores e exportadores de frutas. Infelizmente o Índice de Exclusão Social do NE é de cerca 69% (2000); sem horizontes os miseráveis vivem em estado de letargia política e social. Em Alagoas e Maranhão, terra de famosos coronéis, cerca da metade da população recebe a bolsa-família. Sem transformações estruturais os “estômagos acomodados” dizem: amém. É óbvio! Mas o papel da “ciência é desvelar a obviedade do óbvio”. Há no NE 70 mil açudes com 37 bilhões de m3 de água armazenadas. É sabido que 70% das águas da transposição do Rio Chico serão destinadas à irrigação, 26% para consumo industrial e urbano, só 4% para consumo humano. Como os 22 milhões de nordestinos, dispersos no semiárido, serão beneficiados? No livro “Seca e Poder” Celso Furtado defende a distribuição justa da água acumulada. É importante saber que há mais de 100 tecnologias sociais apropriadas à cultura da região, desde cisternas para captar água da chuva, produção de queijo com leite de cabras, até bancos de sementes para a produção alimentar saudável. Diz o escritor Ariano Suassuna: “eu sempre simpatizei com as cabras”. Eu também! Reconheço a contribuição dos caprinos para a cultura do NE. Não simpatizo com o “poder do atraso” dos velhos e novos coronéis. As prioridades para o semiárido são: empreendimentos solidários, tecnologias sociais e distribuição da água acumulada. Salve Margarida Alves! Fontes: Censo Demográfico, www.asabrasil.org e www.fundaj.gov.br
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