Refiro-me no título do artigo, ao Documento de Março de 58, expedido pelo PCB da época e que assume a Colaboração de Classes, já praticada desde os fins dos anos 40, e consolidada principalmente nos anos 70, 80, 90 e início do sec. XXI, “que quase acabou com o PCB”, nas palavras de seu atual sec.geral Ivan Pinheiro, a meu ver, o principal artíficie da atual inflexão à esquerda do PCB, em claro rompimento com aquele Documento, que considero uma tragédia para a Revolução Brasileira.
Pessoalmente, espero queo PCB acentue esta sua inflexão, alguns tons mais acima da recomendação de voto no segundo turno para a reeleição do Lulla, e aos atuais (poucos) elogios ao governo, notadamente na questão internacional, que penso não poder ser separada de todo o resto francamente entreguista, no máximo uma inflexão para manter alguns na defensiva. Não eu, decerto!
Mas, os desdobramentos do Documento de Março de 58, como ficou conhecido, por acompanhar a ordem da URSS em arrefecer os ânimos revolucionários, como parte de sua política imperialista, pelo lado de lá do mundo, que Movimentos Anti Imperialistas certamente combatiam, a exemplo de Che Guevara, sendo esta, a meu ver, a sua principal divegência com Fidel Castro, que o fez sair pelo mundo e, mesmo morto, fazer mais pela Revolução Mundial, do que muitos colaboracionistas, em décadas de vida.
O resultado imediato deste Documento de 58, foi a criação do PC do B (1962), em inflexão revolucionária anti colaboracionista, inclusive com a interiorização de quadros e preparo da guerrilha. A década de 60 no Brasil foi marcada pela criação de Movimentos Revolucionários, de vários matizes, e todos eles anti colaboração de classe e pelo confronto com a burguesia e a ditadura militar, ao contrário do que preconizava a cautela do PCB. E aqui não estou fazendo nenhum juízo de valor, apenas descrevendo o cenário.
Na década de 70,80, 90 início do sec. XXI, o PCB aprofunda esta política Colaboracionista, apoiando eméritos direitistas e conservadores, muitos deles caroneiros de última hora no desembarque da ditadura, afinal desgastada e finalmente atingida, pelo espraiamento das teses democráticas e muitas de esquerda, que resistiram bravamente aos tempos obscuros que tivemos, e no qual me criei da idade infantil até o início da idade adulta (mas não da Maturidade, que insiste em não chegar em mim aos 54 anos, ao menos na forma de partidário da adesão generalizada que vemos hoje).
Como contraponto à colaboração de Classes, vimos e participamos do surgimento do PT em suas primeiras inflexões de Partido Amplo e de Massas, mas com inflexão anti capitalista, inclusive ao anti capitalismo de estado soviético, e baseado na Participação Popular inovadora, a partir de seus Núcleos de Base. Foi nesta trincheira que combatemos os Moreiras Francos da vida, no RJ, e tantos outros pelo Brasil assessorados pelos Luas Pretas do PCB, já irmanados (ao menos na Colaoração de Classes, mas não como parceiros diretos) ao PC do B, que fletia descaradamente para a adesão ao projeto “desenvolvimentista, popular e democrático” da Burguesia, através do “Tudo pelo Social” de Sarney, assim traindo a ideologia que lhe impôs muitos mortos corajosos, assassinados pela Burguesia, da qual os sobreviventes passaram a beijar as mãos e ganharem empregos, acentuadamnte da dácada de 80 para cá..
Aí, o PT conhece o Poder parlamentar, municipal e estadual. Cristaliza e Burocratiza suas instâncias decisórias, as concentrando em pequeno grupo egresso dos sindicatos e de alguns esquerdistas (atuais ex- esquerdistas) que sobreviveram à ditadura, e poderiam consolidar um pensamento e ação revolucionária no PT. Incluo aí setores esclarecidos da(s) Igreja(s) de variadas profissões de Fé, notadamente a Catóílica e a Protestante Secular, além de Marxistas, Leninistas e Trotkistas, ou pelo menos, autointitulados assim.
Foi alvisareiro o início petista, arrebatador até. Mas, a burocratização e deslocamento do eixo “de massas” para o eixo dos ”comedores de massas”, que são os novos dirigentes sindicais pragmáticos, ávidos para obterem lucros para a sua elite dirigente, mesmo como sócios menores do Capital, e para Parlamentares que ensejavam (e ensejam) principalmnente a manutenção de seus mandatos, para a movimentação de máquina eleitoreira, que os permitem negociar ganhos reais para as suas bases eleitorais corporativas (ou viverem desta promessa, como conhecido petista gaúcho que se diz defensor dos aposentados, não ganha uma, mas não larga o PT e ainda arrebanha muitos votos para a legenda. E é uma simpatia pessoalmente...).
Ao assumir a presidência da república, o PT, através de seu líder máximo, único e carismático Lula (ainda não Lulla, em atos ao menos), mostra que de lindo Narciso, virou um Retrato de Dorian Grey. Com todos os seu ex líderes sindicais combativos, com raríssimas e honrosas excessões, devidamente aburguesados e possuidores de empregos onde ganham na casa das dezenas de mil reais por mês, fora as maracutaias, por exemplo, do Sistema S, Fundos de Pensões, Cooperativas de Crédito aos Trabalhadores Rurais, ONGs e quetais, tudo financiado pelo FAT (Fundo de Amparo aos Trabalhadores). Além de jovens que se acostumaram à vida de ASPONES.
O cenário da primeira eleição de Lula, era o de um amplo e manifesto Movimento Popular, Social e Sindical, a exigir e mostrar estarem preparados para protagonizar as tais Profundas Reformas não só do Modelo Econômico, mas das práticas mesquinhas e anti éticas (para não dizer pior) da Política, como foi exercida pelas oligarquias que se revezaram no Poder, desde tempos imemoriais. Até a necessiade de Reforma Agrária e aceitação do MST como força política legítima estava na pauta e consensuada por amplos setores da socidade brasileira.
Mas, o golpe já tinha sido dado, nas penumbras das articulações políticas,inclusive internacionais, que foi anunciado 60 dias antes de sua eleição, na tal Carta aos Brasileiros (na verdade Carta aos Estrangeiros), onde capitulava por cima, aos ditames internacionais do Capital. Assim, Lulla, inicia sua caminhada de traição ao Povo Brasileiro e às Reformas que representava no imaginário popular, as subsituino por migalhas, enquanto entrega o resto do país.
Já em 1992 participa Diálogo Intermericano, onde consolida sua amizade estratégica (para o Capital) com Stanley Gaceck, braço trabalhista da AFL-CIO, o maldito sindicalismo dos EUA, que Lulla representou nesta malfadada reunião.
Coincide esta etapa, com a tomada do Poder Petista, dentro do partido, pelos que hoje protagonizam este espetáculo deprimente que é um governo que joga migalhas para a platéia, com grande estardalhaço, enquanto no silêncio da conivência sórdida, entrega as riquezas do país, não inicia Reforma alguma, aliás, paralisa a mais importante delas, a Reforma Agrária, além de, subservientemente inserir o Brasil de forma definitiva e subalterna no Capitalismo Mundial, como exportador de matérias primas (commodities) e aprofundando todos os ditames privatizantes de seu antecessor FHC, com algumas bravatas periféricas, para manter as aparências, mas fazendo do Brasil, um país “off shore". Ou um Prostíbulo do Capital, se preferirem, como eu prefiro.
Esta etapa corresponde a compra a dinheiro, empregos, projetos e cargos, para todos aqueles, muitos provenientes da Luta Armada, inclusive a usando como salvo conduto para as suas atuações entreguistas, como se incriticáveis fossem. Estabelece-se que qualquer crítica “é coisa de direitistas”, faz-se uma verdadeira caça às bruxas esquerdistas, consolidando na prática, aquele maldito Documento de Março de 58, de forma muito mais aguda, perniciosa e temporalmente perversa, pois a Tragédia virou Farsa com o postergamento, “ad eternum” dá máxima Um Outro Mundo é Possível.
*Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e feroz opositor à esquerda do Lullo Petismo, tão igual quanto pernicioso aos neoliberais clássicos do Brasil.
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