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Página específica para a 3ª edição do curso de especialização em Gestão Pública e Sociedade:

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Escola de Democracia?

É importante notar a forte influência que a visão gerencialista exerce sobre a "Gestão Pública", tanto do ponto de vista da sua interpretação, como também na postura dos servidores públicos e gestores, bem como da população em geral.

Nesta visão, vários problemas societais (como emprego, renda, serviços de saúde, produção e socialização do conhecimento, educação, entre outros), tem com explicação da sua causa e natureza alguns elementos principais: uma má gestão, falta de um comando profissional, não continuidade, ética dos servidores, eficiência nos processos, mecanismos administrativos de controle.

A conseqüência natural desta visão de mundo é depreciar a própria perspectiva do espaço público e dos fundamento do que é uma sociedade democrática. Ora ao se insistir, de forma reiterada, nas teses de má gestão, corrupção, não continuidade dos serviços, indiretamente está se questionando, na essência, a própria natureza da gestão burocrática do aparelho de estado, mas na aparência e no senso comumun, induz uma visão negativa sobre a gestão pública ou mesmo a sua viabilidade, o que no limite leva a uma visão pessimista sobre o bem comum e possibilidades de sua efetivação.

Por sua vez, ao se questionar a questão da eficiência, mecanismos de controle, etc, o alvo é questionar a existência de um fundo público ou patrimônio comum a todos. Dito de outra forma, busca-se negar que a riqueza social (ou ao menos parte importante desta) deve estar a serviço do povo. Nesta perspectiva, os direitos, fundados por uma opção de civilidade democrática (para todos), perdem espaço para a noção de cliente ou usuário (alguns, relação individualizada).

Aqui não há espaço para teorizar, ou seja, para refletir sobre a veracidade de tais afirmações, para ponderar se todas as variáves e questões foram consideradas, inclusive nos seus pesos, para recuperar quais decisões, por quais pessoas, em quais momentos e visando quais interesses foram concretamente tomadas.

Formar uma teoria é superar uma visão superficial e imediatista da realidade. A teoria é fruto da investigação científica, da busca dos fatos e seus significados, do processo de termos CIÊNCIA do que realmente aconteceu, sua explicação, sua origem, seus impactos.

Sem a teoria, o homem primitivo via nas manifestações da natureza - chuva, tempestades, etc - manifestações divinas. Com a busca pela entendimento dos fatos, pelo saber CIENTÍFICO, descobrimos que trata-se do ciclo climático, de transferências de eletrôns, etc...

Na visão gerencialista não cabe a pergunta: o que é ser civilizado? Como é formada a riqueza social? Que tipo de riqueza social pode nos propriciar mais benefícios, maior qualidade de vida, mais satisfação como pessoas, ou seja, quais combinações de trabalho, tecnologia e tipos de produtos não farão seres humanos melhores e plenos! Ao ignorar tais problemáticas, a visão gerencial está vinculada apenas ao acumular, ao ter. Por isso, quando transposta a gestão pública, perde-se a própria nature de uma sociedade melhor, sustantável. Tal tipo de gestão pública é refém sempre do prático, do imediato, do superficial, do hoje, das formulas prontos, das receitas pré-definidas, não há tempo para pensar, para discutir, para pactuar, existe apenas o tempo de fazer, seja o que for, seja para que for, não importa, o que importa e fazer mais e mais, em menor tempo possível. Não porque perdemos a racionalidade, mas porque a racionalidade determinante é apenas a de acumular bens monetários, e não potencializar riqueza material. Na racionalidade do gerencialismo, até essa diferenciação não faz sentido.


Numa perspectiva diametricamente oposta, temos a pergunta básica: Somos concretamente livres? O que é liberdade? Posto o "nascimento" desta preocupação humana - as condições de uma existência plena - há necessariamente um encadeamento de questões:

Como nos relacionamos com os outros, por respeito, por dominação... como produzimos nossas subsistência, com moderação, com negligência... como produzimos nosso conforto e bem estar, com sensatez, sabedoria, ou com egoísmo, medo, de forma defensiva, infantil, explorando os demais... como ser feliz sozinho, preciso do "outro" ou não preciso de ninguém? Não preciso compartilhar? Juntos não produzimos mais e mais coisas? Juntos não desenvolvemos, sempre, mais e mais tecnologia? Tecnologia não aumenta potencializa nosso trabalho? Não podemos viver com todos e para todos de forma plena e rica? Não podemos criar uma civilidade democrática? Não podemos garantir que a riqueza social seja "de todos" e "para todos" por meio de um processo decisório político, ou seja, criar, contruir, garantiar a "vontade geral"? Como combinar melhor nossos interesses e recursos em termos de produtos e benefícios????

Escola de Democracia seria recuperar esses processo histórico de criação do ideal de emancipação democrático, que mesmo sendo histórico, precisa ser vivo, latente, constante, caso contrário, padece, morre, perde sentido, perde fluidez, concretude...

É pensar se vale mesmo a pena construirmos, numa visão gerencial (e restrita) de gestão pública, muitos hospitais e escolas, os melhores, os mais eficientes, com tecnologia de ponta, gestão impecável... se todos os dias estamos destruindo nossas riquezas naturais, comendo alimentos contaminados, respirando ar poluido, gerando mais e mais doenças... ensinando como lucrar (ou seja, roubar do semelhante), como ser competitivo, como ser o melhor, banalizando valores, amizade, cultura, bem estar... gerando discordia, violência, brigas de familias, de vizinhos, no trabalho... luta de classes....

É pensar como os partes interagem e forma o todo, e mais, é questionar que "todo" é esse que queremos? É a dúvida, sempre inacabada, de como agir no cotidiano, no imediato, nas "partes" e suas "conexões", para recriar o "todo" (nosso sociedade, nossa comunidade, nosso vida) que de fato almejamos ou queremos constituir ...

É pensar com conteúdo, com reflexão, com troca e diálogo, para um ser, um agir, um construir melhor, mais pleno, mais inteligente, mais humano...

Mais que escolas de governo, de gestão dos "de cima", para manter coesos os "de baixo", que tal pensarmos uma Escola de Democracia como um espaço, um momento, um compromisso de recuperar tudo isso, recolocar tudo isso em pauta, priorizar nossas ações e entendimentos, socializar para mais e mais pessoas... ou seja, para se recuperar nossa dimensão sujeitos da luta histórica de emancipação, EMANCIPAÇÃO COMPARTILHADA E CONSTRUIDA EM COMUNHÃO.


Prof. Édi Benini (texto em construção e revisão, aceito sugestões e comentários)

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Encantamento! Esta é a palavra que me vem à mente quando começo a imaginar o que é ou será, como, pra quem seria esta "Escola de Democracia"? A quem ela afetaria? Quais tipos de afetos despertariam? Gosto de pensar sobre as primeiras impressões, as primeiras palavras que vem à mente, ainda desordenadas, talvez incoerentes, incertas, talvez potentes... Olha o que me veio: "Projeto Polítco Pedagógico", "Currículo Integrado", "Construções Curriculares", "Ação é o núcleo do real", "Transformação do pensamento", "Formação do pensamento", "Transversal", "Diálogo", "Avaliação e monitoramento", "métodos", "contradições", "consensos", "discensos", "decisões"... a lista vai crescendo...(risos)O encantamento aumentando...

    Adams Malta

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