Neste ano eleitoral de 2010, quase que nos é imposto apenas duas alternativas de escolha, na lógica superficial e traiçoeira da chamada "democracia representativa" (ou pseudo democracia).
O mais dramático é quando observamos que tais escolhas são baseadas, em grande medida, em apelos emocionais ou verdadeiras chantagens políticas, sempre evidenciando a figura messianica de um líder e seu grupo de iluminados, cada qual com seus devidos argumentos.
Numa disputa como essa, onde aparência é tudo, e conteúdo é "assessorio", se aproveita, ostensivamente, de décadas e séculos de opressão, promovidos para a maioria das pessoas (opressão que também aprisiona mentes, aliena, petrefica vulnerabilidades de todo os tipos), para lhes "vender" esperança e proteção contra o medo.
ANTI-CANTIDATURAS?
Quando tudo parece já estar decidido previamente, igualmente temos a sensação de um esforço em vão e inútil a luta por uma outra sociedade, a organização de projetos alternativos e emancipatórios, enfim, procurar novos horizontes utópicos que animem nossa resistência diária e orientem novas estratégias de enfrentamento.
Entretanto, por outro lado, aceitar passivamente as coisas como estão, na lógica de ser o mais "pragmático" e realista, pode ter conseqüências infinitamente piores que a mera "passividade", uma vez que as tendências não são, digamos "as melhores", tanto do ponto de vista das tragêdias sociais, como crises econômicas e o aprofundamento da destruição ecológica.
Dessa forma, vejo como uma opção perfeitamente legítima (e imperativa) a construção de anti-candidaturas. Não que sejam candidatos que queiram "perder" por masoquismos, mas sim que sejam referências para se aglutinar movimentos e propostas, de tal forma que não cedam ao pragmatismo eleitoreiro manipulado, superficial, das alianças da ordem (alianças para dar espaço a alguns lideres, sem dar espaço nenhum de mudança). Logo, trata-se de uma luta constante de conscientização, de desafiar o impossivel, de não ceder as tentações do poder concentrado, de qualificar projetos e propostas, de formação política e construir um saber democrática no coletivo.
O momento de disputa eleitoral não é um momento de “tomada do poder institucional”, mas sim um espaço de ampla denúncia das contradições e riscos que essa lógica implica a todos nós, e mais importante, um espaço para DIÁLOGO E FORMAÇÃO DE PROJETOS E PROPOSTA que sejam capazes de articular agentes da mudança, e colocar em movimento ações estruturantes de uma outra sociedade.
Apenas assumir cargos institucionais, por meio do marketing eleitoreiro, manipulação de massas, e sem projetos de mudança efetivos (especialmente de socialização do poder estatal), é tão somente se transformar em “gerentes do capital” (eis a chantagem lulista, pois de fato são melhores gestores da dominação que os tucanos). Em geral temos alianças apenas para ratear os cargos de dirigentes públicos (buscar pura e simples pelo poder estatal), e não "alianças" para novas conquistas (por exemplo, lei do passe livre, ampliação e qualificação dos serviços públicos, auditoria cidadã da dívida pública, reforma urbana e agrária).
A conquista do poder coletivo (alienado no aparelho estatal), precisa ser vista como final de um processo de luta, composições, acúmulos de propostas e conquistas para a emancipação além do capital, e não o seu inicio (e esgotamento prematuro).
Um projeto de emancipação - recuperar a bandeira do "socialismo"
Se entendermos o socialismo como um PROJETO DE SUPERAÇÃO do modo de produção e destruição do capital - apropriação do trabalho alheio (mais valia), desperdício de riqueza social com taxas de obsolescência colossais que promovem a destruição ilimitada (inclusive dos meios ecológicos de suporte a vida) e de forma mais e mais rápida que a produção (o valor de troca), separação e alienação do trabalho entre os que mandam, dominam, dos que executam, obedecem (gestão burocrática) - então, o socialismo, além de um ideal de superação do estabelecido (ideal importante para mobilizar, para nos “sacudir”, para criar alternativas...), é também uma NECESSIDADE HISTÓRICA, enquanto tal situação (de exploração e destruição generalizadas) persistirem.
Já tivemos várias tentativas e lutas emancipatórias, o que por um lado é um acúmulo fundamental para balizar novos projetos (como todos os seus avanços e equívocos), porém temos também um desafio basilar, qual seja, superar a fragmentação entre os grupos que, em ultima instância, compreendem tal necessidade histórica de superar este tipo de sociedade, centrada no capital e parasita implacável dos seres vivos, mas que por vários motivos estão fragmentados e até em conflito (facilitando em muito a manutenção dos donos do poder).
É importante o debate, diferenças entre idéias, leituras e propostas, acumulo teórico, porém, é necessário, para se questionar, numa ofensiva transformadora, o statos quo, formas e metodologias de AGLUTINAÇÃO COLETIVA EM TORNO DE UM PROJETO DE AÇÃO claro e consistente.
Sem me alongar mais, sugiro inclusive (e perdão pelo atrevimento), que uma ou duas propostas interessantes (apontando um horizonte socialista efetivo e inteligível para as pessoas), a se colocar no debate amplo, seria a combinação crítica entre as experiências de empresas estatais e o movimento cooperativista, ou seja, a criação, fomento, implante, etc, de um SETOR PRODUTIVO PÚBLICO ESTRUTURADO PELA AUTOGESTÃO SISTÊMICA E VALOR DE USO (socialização econômica), ao lado de um projeto político de socialização do poder, por exemplo, um projeto de instituir CONSELHOS GESTORES DE CONTROLE DEMOCRÁTICO, com a função de nomear, avaliação e revogar os cargos de dirigentes públicos do executivo, que hoje está mais para uma monarquia (oligarquia liberal) do que para um “setor público” (república).
Alguns pontos para, quem sabe, instigar novos debates e horizontes...
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