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Página específica para a 3ª edição do curso de especialização em Gestão Pública e Sociedade:

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ciência e tecnologia no contexto societal

texto para debate, sobre a questão da neutralidade ou não do desenvolvimento científico e tecnológico.


" (...)
A tecnologia e as ciências desenvolvem-se, na sua orientação de conjunto e nas suas prioridades, em função das necessidades da indústria e do Estado capitalistas, necessidades que, evidentemente, não são do mesmo tipo que as de uma sociedade libertada.


Por conseguinte, as ciências, tal como as técnicas, não são independentes da ideologia dominante, nem estão imunizadas contra ela. Subordinadas e integradas no processo de produção, por ele solicitadas, elas levam em si, enquanto forças produtivas, o estigma das relações capitalistas de produção. É verdade que essa integração nunca é completa; e isto porque a atividade científica, o trabalho que consiste em produzir conhecimentos, tem - do mesmo modo que qualquer trabalho - uma parte irredutível de autonomia que é o próprio trabalhador enquanto práxis soberana. A ciência pode ser posta a serviço de fins predeterminados; pode ser desenvolvida numa determinada direção em detrimento de outras; pode ser levada a responder a questões que lhe são postas pelo Estado e pela ideologia burgueses, em prejuízo das outras questões. Mas não é possível impedir que os trabalhadores da ciência de porem a si mesmos e de se lhes depararem questões diferentes das que lhes são apresentadas para resolver, nem mesmo de encontrar as possíveis soluções para questões que a burguesia não lhes (nem se) põe.

De fato, quando os trabalhadores da ciência trabalham para fornecer as soluções que lhes são pedidas para problemas que lhe são postos, encontram sempre a possibilidade de formular de outro modo e de resolver de outra maneira esses mesmos problemas; porém, essas possibilidades surgem-lhes como possibilidades que lhes são recusadas. É através disso que conhecem a arbitrariedade ideológica e cultural a que estão submetidos; é através disso que aprendem que a orientação e os conteúdos da atividade científica podiam ser diferentes mas que, para serem diferentes, são necessárias técnicas e uma sociedade diferentes. É através disso que eles são, e podem saber que são, ao mesmo tempo, recuperáveis e não recuperáveis pelo revolução. E é por isso, enfim, que não é voluntarista nem primitivista pedir-lhes que contestem, critiquem e recusem as orientações e conteúdos das suas competências, a pretensa neutralidade e inacessibilidade da sua ciência."

André Gorz
Fragmento do texto: Divisão do trabalho, hierarquia e luta de classes (extraído do livro: Divisão Social do Trabalho, Ciência, Técnica e Modo de Produção Capitalista). Grifos nossos.

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