COMENTÁRIO 1
De: | admpubunesp@yahoogrupos.com.br em nome de Anderson Rafael Nascimento (anderson.rafa@terra.com.br) |
Enviada: | segunda-feira, 25 de janeiro de 2010 11:18:34 |
Para: | AdmPubUNESP@yahoogrupos.com.br |
|
|
Olá, Edi.
Bom falar contigo!
Compreendo seus argumentos e percebo também a escassez e a inabilidade que
temos para o tempo livre. Alguns autores do fim do século passado
acreditaram que essa sociedade atual seria a "sociedade do tempo livre" e
essa brecha permitiria compreender uma nova relação no tempo e no espaço. O
tempo mostrou que não.
Contudo, para falarmos da política pública da educação atualmente
extrapolamos a visão do ensino. Infelizmente!. A dependência que as famílias
pobres têm da merenda escolar, por exemplo, é muito grande. Alimentar as
crianças é uma função da educação. Pensando nisso estar na escola é garantir
uma alimentação às crianças.
Estou na presidência de uma organização (Projeto Meninos e Meninas de Rua)
com atuação na região metropolitana. Digo isso porque compartilhamos o
"desespero" das famílias que tiveram seus filhos afastados por mais tempo da
escola em julho do último ano por conta da gripe A . Elas nos procuravam
para tentar noticiar as políticas públicas de assistência social, pois não
tinham mais recursos para comprar comida para os filhos. Vieram a nós,
mas foram também aos vereadores que por favores pessoais conseguiram cesta
básica e as mantiveram em baixo dos seus interesses clientelistiscos. Além
disso, mandaram seus filhos de volta às ruas para conseguir um trocado e
comprar comida.
Concluindo, acredito que estar na escola é importante. O questionamento é:
qual escola que queremos para essas crianças?
Abraços.
Anderson Rafael Nascimento
www.pensaragestao.org
--
Prof. Anderson Rafael Nascimento
http://www.card.ly/andersonrafa
Comentário 2
De: | Bernadete Aparecida Ferreira (bernadete_ap_ferreira@ibest.com.br) |
Enviada: | segunda-feira, 25 de janeiro de 2010 12:26:52 |
Para: |
|
Oi Anderson e Benini,
Bom é inevitável e eu não pude deixar de ler.
Eu resumiria em dois desafios grandes aí:
- Como potencializar de forma lúdica, prazerosa e educativa o tempo livre, não só das crianças, mas das pessoas adultas também, que já não têm tempo livre e quando têm utilizam para dormir, para acessar internet, para "carregar outras pedras"?
- Seria mesmo a escola de tempo integral e com maximização da produtividade do tempo a melhor saída?
- Outro questionamento que podemos fazer: seria de fato o papel da escola alimentar as famílias e as crianças, ou essa não seria apenas tarefa complementar? A alimentação passa a ser tarefa das escolas porque o Poder Público, o Estado deixa de investir em políticas estruturais de segurança alimentar e nutricional e em políticas de emprego e renda para cada trabalhador e trabalhadora brasileiros e a família é uma unidade coletiva desempoderada e com auto-estima diminuida. Como poderemos pensar em acabar com trabalho infantil e clientelismos de vários matizes com as políticas compensatórias assumidas pelo Estado Brasileiro?
Só alguns questionamentos.
Berná
COMENTÁRIO 3
De: | admpubunesp@yahoogrupos.com.br em nome de Ralph Breitschaft Mendes (ralphmendes@yahoo.com.br) |
Enviada: | segunda-feira, 25 de janeiro de 2010 21:46:34 |
Para: | AdmPubUNESP@yahoogrupos.com.br
|
Olá Edi, meu nome é Ralph, sou da XVI Turma... Gostaria de dizer que as questões que você levantou a muito tempo me levam à reflexão, principalmente as que tratam dos indicadores que de certa forma "mascaram" a real situação da educação em nosso país.
Minha mãe é professora aposentada e ela sempre abominou a ideia de que o aumento de vagas na escola sem o devido planejamento e o crescimento do número de horas a que as crianças são obrigadas a ficar no ambiente escolar significam melhora na qualidade do ensino e conseqüente aumento de produtividade na aprendizagem.
Creio que a sua conclusão a respeito do aumento de popularidade dos governantes através da melhora destes "indicadores" é algo de fácil observação. Todavia, acredito que isso seja culpa também da cultura social que preza muito mais pelo aspecto quantitativo do que pelo qualitativo.
Faço aí um "link" com os moldes pelos quais são avaliados inúmeros projetos de pesquisa acadêmica. Normalmente são aprovados aqueles que podem trazer resultados "palpáveis", enfim, estatísticas, gráficos entre outras ferramentas que em muitos momentos não representam a realidade dos fatos.
Quantas vezes temos a oportunidade de presenciar a marginalização da pesquisa qualitativa sob o argumento de que esta tem grandes chances de ser inviezada e pouco confiável, como se uma tabela com dados e gráficos fossem os "messias" da pesquisa acadêmica?
Enfim, acredito que este fenômeno (que surge inclusive dentro da universidade, onde em tese as pessoas deviam se atentar mais a isso) seja facilmente transplantado para a sociedade em geral.
Quanto à situação citada pelo Anderson, posso dizer que é a pura realidade. A área da educação atualmente atua num setor que em teoria não seria de sua alçada. A alimentação na escola, que deveria ser apenas um complemento, muitas vezes acaba sendo a única refeição de muitas crianças, ou em outros casos, a presença das crianças na escola é fator preponderante para receber o dinheiro para se alimentar, política esta voltada para enriquecer os tais "indicadores".
Com isso posso desenhar o seguinte quadro:
O rápido retorno a escola garante a refeição de muitas crianças em dois casos: ou com a própria merenda, ou com a política de a criança estar presente em aula (o que não significa aprendizado) para receber uma ajuda de custo para se alimentar. Nesta situação obsrevamos o enriquecimento de dois "indicadores": Aumento nas horas de aula e aumento na distribuição de recursos para a alimentação. Números estes que serão encaixados em campanhas estruturadas por marketeiros aparentando uma suposta melhoria na área da educação, aproveitando-se da enorme aceitação que o uso de instrumentos quantitativos tem dentro da sociedade. Esta por fim, cada vez possui menor capacidade crítica para avaliar se tais "indicadores" representam a realidade, em virtude do sucateamento da educação pública, provocado em parte por esta forma de encará-la que já é utilizada a muitos anos, provocando uma espécie de ciclo vicioso, que pode se tornar fatal
para a educação brasileira.
Bom, posso estar exagerando (torço para que sim!), mas deixo este quadro como uma provocação para os colegas colocarem suas opiniões e enriquecerem o debate.
Abraços!
Ralph Breitschaft Mendes
XVI Turma de Administração Pública da UNESP - Araraquara
COMENTÁRIO 4
Olá, bom dia Anderson, Bernardete e Ralph
Creio que esse ponto é importante para o debate, até que ponto vale
a pena mesmo instrumentalizar a educação ou para uma política
compensatório de insuficiência de renda (bolsa-familia),
ou para uma política de ascenção social (cotas) ou
para uma política de aumento da produção de mercadorias
(subordinação ao mercado)?
Não sou contra a necessidade de seres humanos de
segurança alimentar, de uma renda mínima e digna.
Não sou contra as pessoas quererem "vencer" na vida
por meio de um diploma e com isso "escapar" de séculos
de exploração e preconceito. Não sou contra técnicas e
instrumentos para aprimorar nossa produção industrial.
Mas a educação vale por suas "segundas ou terceiras" intenções?
Ou ela é um valor em si?
O que questiono é se esta estratégia, em larga medida
defendida também por vários setores progressistas da
nossa sociedade, está valendo a pena, está promovendo
a formação de sujeitos plenos, críticos, atuantes,
de uma sociedade justa, equilibrada, civilizada,
que avança e não retroage em "faíscas" crescentes de barbárie?
Talvez a bandeira não seja esta, a de vincular
o "pagamento da nossa divida social", legimita e,
repito, extremamente necessária, com políticas públicas
educacionais. Talvez a bandeira, a luta, o horizonte deveriam ser
(ou voltar a ser) o da universalização da educação pública,
da qualidade do ensino, melhores salários para todos
os professores, mais livros, bibliotecas, mais pesquisa,
desenvolvimento científico, mais professores, salas de aula
adequadas, com turmas não grandes o suficiente para virar
"palestra" e evitar a interação, o debate, metodologias
que valorizem mais o conteúdo, o ser, um conjunto bem articulado
de indicadores, e não uma ditadura de alguns poucos números
superficiais e insuficientes, a ditadura da forma... estou errado?
Abraços
Prof. Édi Augusto Benini -
Universidade Federal do Tocantins
COMENTÁRIO 5
De: | Bernadete Aparecida Ferreira (bernadete_ap_ferreira@ibest.com.br) |
Enviada: | terça-feira, 26 de janeiro de 2010 19:31:47 |
Para: | Edi Augusto Benini (edibenini@hotmail.com) |
Olá Benini, Ralph e Anderson,
Acho que o debate está bom, penso que deve sim entrar no blog.
Eu gostaria de acrescentar algo que há muito eu já vinha refletindo também nessa questão da produtividade e da quantidade de tempo e horas na escola para as crianças, com esse aspecto de que a criança na escola está protegida das ruas, das armadilhas da rua e também do trabalho infantil.
Vocês trazem à tona o aspecto dos marketeiros políticos que tudo utilizam com possibilidade de dividendo político, inclusive e principalmente a bandeira da "educação".
Acho legal a escola de tempo integral, em vários aspectos, principalmente em lugares onde não há políticas consistentes para a infância, adolescência e juventude, onde, supostamente, estas escolas ofereceriam as alternativas de arte, cultura e sócio-educação a que todos(a) têm direito.
Mas, volto a falar do desempoderamento da família e do habitat comunitário das pessoas, acrescentando a isso, além de tudo, a desvalorização de crianças e adolescentes enquanto sujeitos de escolhas, sujeitos de criações e decisões.
Diminuir o tempo livre, o tempo de férias, parece todo tempo querer nos dizer "diminuir o tempo de rua, o tempo de ócio, o tempo da pseudo-marginalidade" que representa cada criança pobre no imaginário inconsciente da classe empoderada, representada pelo Estado, pelos políticos, por quem pensa as políticas. Ser criança pobre é ser um marginal em potencial, por isso, escola!
Tirar das ruas, ou dos espaços comunitários sem a vigília dos que representam o poder e o saber, seria "prevenir a marginalidade potencial que cada criança pobre representa".
Veja os ricos, que vão às escolas privadas, tem no outro período e no tempo de férias alargado a chance de viajar, de ir ao cinema, de ir aos grandes parques, de jogar em casa seus jogos eletrônicos...
Os pobres estão sempre à mercê das ruas = escola de marginais.
Percebo há muito tempo uma discriminaçãozinha embutida nisso.
Ninguém pensa que somos nós educadores e os políticos e políticas brasileiros que não sabem ainda ver nos pequenos estudantes o/a sujeito/ ali existente e que nõs não sabemos mais lidar com os espaços não apropriados, com os espaços que seriam de liberdade; não sabemos lidar com a rua!
Por que será que a RUA fascina tanto as pessoas? Por que será que meu menino só quer viver na rua?
Por que será que meu filho quer tanto a liberdade...e tão logo manifesta isso, já temos medo de que ele seja um "um menino de rua" , um chamado "marginal", ainda mais ele sendo "preto". Todos me perguntam: não vai colocar na escola de tempo integral?
Então, toca escola nele...toca inflação de atividades nele, que é para ele não ter tempo de pensar a liberdade, olhar, gostar e preferir!
E eu, fico tentada...me sinto culpada e ainda minha auto-estima como educadora vai lá embaixo.
Vocês acham que estou errada em pensar essas coisas? Talvez os meus anos de trabalho com população de rua tenha me levado a assimilar esse desejo de liberdade e, às vezes, necessidade advinda da miséria.
Bernadete
Nenhum comentário:
Postar um comentário