Páginas Vinculadas

Página específica para a 3ª edição do curso de especialização em Gestão Pública e Sociedade:

terça-feira, 30 de junho de 2009

Sustentabilidade e Reforma Agrária: perspectivas de um novo desenvolvimento

Uma chave fundamental da sustentabilidade é a compreensão de que não se trata apenas de equilibrar o econômico, o social e o ambiental, mas sim de constituir novas relações de produção, tanto em termos de forma da riqueza (o que se está produzido, com quais recursos e com base em quais técnicas), e distribuição da riqueza (a que vem ou a quem beneficia?), parametros estes que possam, simultaneamente, satisfazer necessidades humanas básicas de sobrevivência e suprir, dentro das possibilidades, as preferências materiais de conforto, isso tudo de forma equilibrada e civilizada.

Nesse horizonte, a agricultura familiar, conforme vários estudos e reflexões, ganha uma perspectiva diferenciada e importância fundamental de se pensar o “desenvolvimento”. Se a primeira vista a chamada “revolução verde” supostamente trouxe maior produtividade à agricultura, tal estratégia de produtividade não foi isenta de problemáticas e contradições, pois ao contrário de efetivamente reduzir custos, os externaliza para todo o território envolvido, tanto em termos de “redução na qualidade e na quantidade de ocupações no campo”, como também numa sobrecarga indevida sobre os recursos naturais e ciclos ecológicos (expressos em diferentes situações, com na erosão, empobrecimento e contaminação do solo, comprometimento de nascentes e mananciais, destruição da biodiversidade, baixa qualidade dos alimentos produzidos).
Com essa redução artificial de custos, a monocultura ganhou competitividade e concentrou renda, enquanto o conjunto da sociedade arcou com os demais custos (desemprego, fome, doenças e todo o tipo, deformação do mercado interno).

Por sua vez a agricultura familiar ganha grande relevo especialmente em duas dimensões críticas, primeiro pelo seu caráter multifuncional e integrador de vários benefícios. Num espaço reduzido, temos a coexistência de múltiplas culturas e criações, reforçando os ciclos ecológicos que unem fauna e flora, espaço no qual as famílias buscam produzir o que lhes é necessário, dentro de uma troca constante com todas as potencialidades “oferecidas” pela natureza. Com isso, tem-se ainda a possibilidade de se reforçar práticas de conviver com o ambiente e de enriquecimento social, político e cultural de comunidades.

Outra dimensão, talvez menos óbvia a primeira vista, mas tão ou mais decisiva, trata-se mesmo de se instituir bases concretas para outro tipo efetivo de desenvolvimento.
O conceito normativo de “desenvolvimento sustentável” peca pela sua excessiva abstração e apelo emocional, deixando, em segundo relevo, questões estruturais e determinantes.
Entre tais questões, há o dilema perigoso e pouco percebido entre a dinâmica econômica da acumulação, baseada necessariamente no consumo crescente, com o esgotamento crítico da capacidade de carga do planeta (em termos de uso dos recursos naturais e processamento dos seus passivos). Reduzir o consumo em nome da ecologia tende a levar a crises econômicas, o que se traduz também em crises sociais, como o desemprego. Promover o crescimento pelo crescimento, apesar dos benefícios imediatos, também tende a levar, no médio e longo prazo, a outras crises sociais (deterioramento das condições de vida, poluição das águas, caos urbano, aumento de epidemias, novos custos econômicos devido aos “passivos” ambientais, aumento do custo de vida, reversão na produtividade na agricultura, instabilidade climática crescente). Tais problemas estão centrados numa apologia de civilização baseada num mundo urbano (supostamente desconexo com os sistemas ecológicos) e na industrialização (exploração ilimitada).

Dessa forma, provavelmente a chave para um tipo diferenciado de desenvolvimento, centrado no valor trabalho, na satisfação legítima de necessidades humanas, uso sustentável de recursos naturais e na aplicação intensiva de tecnologia e conhecimento sistêmicos, ou seja, que se possa de fato sustentar, esteja justamente no mundo rural, dito de forma mais concreta, na agricultura familiar.
Isso porque, como vimos, a agricultura familiar (que pode inclusive se sofisticar em estruturas comunitárias) é o locus direto de experimentação e inovação nas relações simultâneas, e necessárias, entre as pessoas, entre o ser genérico “homem” e a ecologia, e entre a sociedade e a natureza (em termos agregados e dinâmicos). Além disso, é interessante notar que o campo igualmente pode ser um locus de moradia e convivência tão ou mais rico que nas cidades, ou seja, questionar a concentração exagerada dos quesitos básicos de sociabilidade: trabalho, serviços, habitação, integração, cultura, educação... apenas nos centros urbanos.

Qualificar a reforma agrária com o macro-objetivo histórico da emancipação social significa almejarmos um patamar superior de debates e projetos, que possam romper as correntes do pré-concebido, e das ideologias centradas meramente na acumulação pela acumulação e na desqualificação das alternativas.

Pensar a reforma agrária como uma estratégia de promoção de novos horizontes de mudança ou mesmo de desenvolvimento, em termos de equacionar conhecimentos, legitimidade social, produção de riquezas e os fluxos ecológicos de suporte a vida (inclusive e especialmente da vida humana), é ir além da distribuição (ou devolução) das terras ao trabalhador rural, mas potencializar novas cadeias produtivas, promover e aplicar novos conhecimentos científicos, viabilizar políticas de enriquecimento social, cultural, comunitário e político, novo complexo de sociabilidade rural... entre outros horizontes a serem inventados. Uma imensa oportunidade, pouco percebida e valorizada.

Prof. Édi Augusto Benini

P.S> Agradeço as várias opiniões e contribuições, que sem dúvida estão a ajudar a melhorar ainda mais o texto e o argumento defendido.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

mp 458: uma imensa tragêdia e golpe as que tinham "esperança"...

Será possível que depois de séculos de luta, sofrimento, espoliações, escravidão, exploração, injustiças sem limites, depois de tudo que nosso povo passou... e que sempre, numa insistência heróica de "viver com dignidade", a cada golpe covarde se reerguia, catando os cacos e recompondo a nosso esperança de mudanças efetivas, de uma nação civilizada e democrática, de construirmos e edificarmos um lugar no qual se possa ter, verdadeiramente, orgulho por combinarmos preservação ecológica com bem estar social, vida digna, produção econômica para as necessidades humanas, um exemplo para o mundo... será que depois de tudo isso, vamos mais uma vez (ou definitivamente) ver nossos sonhos serem castrados, amesquinhados, destruídos, será mesmo verdade?

Leiam abaixo este brilhante artigo, e cada um faz um juízo com sua própria consciência...


MP 458: Antes de começar a ler, respire profundamente

Por Plínio Teodoro*

Considerada o pulmão do mundo, a região amazônica passa por mais um sufocamento iminente: o de ver cerca de 12% de seu território cair, agora oficialmente, nas mãos dos grandes latifundiários de terras. O fato não é novo. Três meses antes de seu suspiro final, o seringueiro Chico Mendes já alertara, em entrevista durante o terceiro Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 9 de setembro de 1988. “Essa força nova (dos defensores da floresta) que cresceu serviu pra deixar os grandes latifundiários cada vez mais preocupados.

Hoje, a UDR (União Democrática Ruralista) se preocupa muito em tentar se estruturar na Amazônia”.Mais de vinte anos depois, a Medida Provisória 458 – relatada pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), e que vai à sanção ou não do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta-feira, dia 25 - estrangula as ações de ambientalistas e dos povos que lutam pela sobrevida, por meio do extrativismo sustentável, da maior floresta tropical do mundo.

Um levantamento minucioso da organização não governamental Greenpeace – que é mantida interinamente com recursos de pessoas físicas – estima que entre 80 e 120 bilhões de toneladas de carbono estejam estocados na Amazônia. Se destruída, a floresta liberaria o equivalente a 50 vezes as emissões anuais de gases do efeito-estufa produzidas pelos Estados Unidos, sufocando, de vez, o planeta.Desenvolvido ao longo de três anos, o estudo mostra que, segundo dados do próprio governo brasileiro, ‘a pecuária é responsável por cerca de 80% de todo o desmatamento’ na região. Isto significa que a cada 18 segundos, um hectare de floresta Amazônica, em média, é convertido em pasto.O relatório revela ainda que os tentáculos de uma conturbada figura, que firmou seu império durante o processo de privatização conduzido durante o governo Fernando Henrique Cardoso, lidera o principal ponto de estrangulamento do planeta.Segundo dados obtidos pelo Greenpeace em fontes oficiais do poder público, nada menos que as cinco maiores áreas devastadas na Amazônia estão em fazendas que pertencem à Agropecuária Santa Bárbara Xinguara S.A., controlada pelo grupo Opportunity. Sim, dele, Daniel Dantas, preso durante a Operação Satiagraha, da Polícia Federal, acusado de lavagem de vultosas quantias de recursos de origem duvidosa em paraísos fiscais, entre outros crimes, e condenado a 10 anos de cadeia por tentar corromper um delegado federal durante a fase investigatória.

Das teles às terrasAlvo de investigações da Polícia e do Ministério Público Federal após o processo de desestatização das teles conduzido pelo então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, e pelo próprio presidente Fernando Henrique Cardoso – que chegou a declarar em escuta telefônica que iria interferir junto ao Banco do Brasil para que a Previ, o fundo de pensão dos funcionários da instituição, se associa-se ao grupo Opportunity – o controverso banqueiro baiano é acusado pela Polícia Federal de remeter a paraísos fiscais até 2 bilhões de reais. Há suspeitas por parte da Polícia Federal de que parte destes recursos seja oriundo do processo de privatização do sistema Telebrás, que teria sido “lavado” por meio do Opportunity Fund, o fundo de investimentos criado por Dantas.E, enquanto o banqueiro se digladiava com ex-sócios para monopolizar em mãos privadas o controle do sistema de telecomunicações do país, a trupe “desenvolvimentista” de FHC agia, em outra frente, para anular os crimes cometidos pelos latifundiários na derrubada da floresta amazônica.Menos de um mês após a privatização do sistema Telebrás, em 10 de agosto de 1998, Fernando Henrique sancionou a Medida Provisória 1.710, que entraria para a história da legislação brasileira como um dos atos do Executivo mais inconsequentes na área ambiental.

A MP deu a possibilidade aos devastadores da floresta firmarem "termos de compromisso" com os órgãos do Sisnama (secretarias e órgãos ambientais municipais, estaduais e federal) nos quais se comprometiam a recuperar a área degradada em até 10 anos, ficando impunes por todo o período.A decisão acirrou a corrida ao novo “Eldorado” da pecuária brasileira, levando grandes empresários do setor a investirem na grilagem de terras devolutas, que pertencem a União, mesmo estando ocupadas. Estas áreas são adquiridas por meio de camponeses usados como laranjas, que assinam procurações e documentos falsos que possibilitam aos “patrões” a compra de várias propriedades vizinhas, como se fosse um grande loteamento.

Porém, na verdade estas várias propriedades unidas formam um grande latifúndio.Durante o prazo de anuência concedido aos devastadores da floresta, grandes grupos adquiriram as terras griladas da região para expandir a pecuária. Coincidência ou não, esta também foi a decisão do grupo Opportunitty, que fundou a Agropecuária Santa Bárbara, atualmente dona de uma área de 510 mil hectares na região amazônica, o que corresponde a três vezes o tamanho do município de São Paulo.Os negócios de Daniel Dantas vão bem. E quem diz o obrigado é o ex-cunhado e sócio – inclusive de cela durante a Operação Satiagraha - do banqueiro, Carlos Rodenburg. Em reportagem na edição de 15 de janeiro de 2008 do jornal Valor Econômico, que pertence ao grupo Folha e à Rede Globo, Rodenburg orgulha-se de dizer que ele e o sócio pretendiam faturar R$ 110 milhões com a venda de mais de 100 mil cabeças de gado no ano com os “empreendimentos” na região amazônica.

Quanto às irregularidades, comuns na região, o sócio de Dantas afirmara que: "invasões e conflitos estão ligados à grilagem. Não sentamos nem para conversar se tiver alguma ilegalidade com a propriedade pretendida. Já a questão do trabalho escravo é uma realidade, mas temos rigor absoluto com as normas que regulamentam as leis trabalhistas do setor".Na visão do Ministério Público Federal, no entanto, a ética do império da pecuária de Daniel Dantas segue à risca o que o banqueiro já havia demonstrado em outros ramos de negócios, como o financeiro e de telecomunicações.No dia 1 de julho de 2009, promotores federais pediram o indiciamento de dez fazendas pertencentes à Agropecuária Santa Bárbara por desmatamento ilegal. Uma das indiciadas, a Fazenda Rio Tigre, também é conhecida por figurar na lista suja do trabalho escravo. Em julho de 2004, a propriedade, localizada em Santana do Araguaia, no sul do Pará, recebeu a visita do grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, que libertou 78 trabalhadores que viviam em condições análogas à da escravidão.Além da restauração dos danos ambientais, o Ministério Público solicitou a emissão de multas que ultrapassam o valor de R$ 680 milhões pelas irregularidades causadas pelo braço pecuário do império de Daniel Dantas.Tentáculos no poder públicoCoincidência ou não, o principal articulador pró-aprovação da Medida Provisória 458 na Câmara e no Senado foi um ex-assessor de Daniel Dantas, que ganhou uma secretaria com status de Ministério no atual governo em junho de 2007. Roberto Mangabeira Unger - atual secretário de Assuntos Estratégicos e ex-consultor do grupo Oportunitty - foi nomeado, menos de um ano depois, coordenador do Programa Amazônia Sustentável (PAS) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No mesmo mês em que a coordenação do programa foi entregue a Mangabeira, a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, entregou sua carta de demissão do governo. Notável pela luta em defesa dos povos da floresta, Marina Silva – que reassumiu seu cargo no Senado Federal após deixar o ministério – pediu a Lula que, ao menos, vete três artigos da MP 458.Um dos vetos pedidos pela senadora visa limitar a regularização de terras para as pessoas jurídicas que possuam outras propriedades rurais. Nesse caso, ela argumentou que há, na matéria aprovada pelo Senado, "uma anomalia difícil de ser percebida".O artigo que permitira tal anomalia descrita pela senadora foi alterado após Mangabeira Unger sugerir a exclusão da cláusula que previa “a inalienabilidade por 10 anos para posses de até 4 módulos fiscais”. A medida permite que grandes empresas que atuam na Amazônia, como a Agropecuária Santa Bárbara, compre em menor tempo áreas no entorno de suas fazendas.Além desta, outras quatro representações junto à MP feitas pela Secretaria Especial de Assuntos a Longo Prazo beneficiam diretamente os negócios de Daniel Dantas na região amazônica. Em nota, enviada no dia 22 de junho ao site Congresso em Foco - que fez a denúncia -, a assessoria do órgão público negou que as medidas sugeridas por Mangabeira Unger visavam beneficiar seu ex-patrão, Daniel Dantas.Nas mãos de LulaAprovada nas duas casas legislativas, a Medida Provisória 458 chegou ao Palácio do Planalto no início do mês.

Entre os dedos do presidente Lula – onde vai repousar a caneta que pode sancionar ou vetar a medida – pode estar também a garganta da Amazônia e dos povos da floresta. A comprovada corrida pecuária pode ser o último suspiro da maior área intocada de mata tropical no planeta antes da devastação para a exploração comercial. O agravante é que, com o desaparecimento dela, serão reduzidas as chances de sobrevivência do planeta, que já sente os reflexos da falta de planejamento para um desenvolvimento sustentável.Exatos 13 dias antes de ser assassinado com tiros de escopeta no peito na porta dos fundos de sua casa, em 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes, em entrevista ao Jornal do Brasil, disse apenas que queria viver. Respirar. Não por ele, mas pela Amazônia e pelos povos da floresta.“Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Então eu quero viver. Ato público e enterro numeroso não salvarão a Amazônia. Quero viver”. A Amazônia também.

*Plínio Teodoro é jornalista, pós-graduando em Política e Relações Internacionais e colaborador da Revista Caros Amigos

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Análise Crítica da Teoria Organizacional - informações


Disciplina: Análise Crítica da Teoria Organizacional
Docente: Prof. Dr. Felipe Luiz Gomes e Silva


Datas e Horários:

- 10/07: tarde (14:00 às 18:00) - sala 21 bloco III
noite - evento no CUICA (início às 19:15)

- 11/07: manhã (08:00 às 12:00) - sala 21 bloco III
tarde (14:00 às 18:00) - idem

- 12/07: manhã (08:00 às 12:00) - sala 21 bloco III
tarde (14:00 às 18:00) - idem


Textos para esta disciplina estão no seguinte arquivo virtual:
http://cid-9c9277f910ca57b8.skydrive.live.com/self.aspx/.Public/cr%c3%adtica%20a%20teoria%20organizacional


Ementa:

Esta disciplina tem como objetivo refletir sobre o significado do singular processo de racionalização da produção que surge no início do século XX. Pretende estudar a constituição do denominado paradigma organizacional taylorista-fordista de produção em massa e as novas formas de gestão da força de trabalho que emergem a partir da sua crise: “o movimento de relações humanas”, o enriquecimento das tarefas, os Grupos semi - autônomos e o “modelo toyotista de produção (Just in Time/Kanban/CCQ). A “emergência de um novo regime de acumulação mundial predominantemente financeiro”, a elevação do desemprego e da precarização do trabalho têm gerado novas formas organização nas quais a apropriação da subjetividade da classe operária permite que o ritmo de trabalho seja intensificado. O “modelo toyotista de administração”, enquanto “ideologia gerencial”, transcende o mundo da produção material e se faz presente na gestão pública, em especial na administração do setor educacional.

Objetivos e Estratégia Pedagógica: Compreender a problemática das organizações e sua relação com a forma como é estruturada a sociedade.


Bibliografia:

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sexta-feira, 19 de junho de 2009

"O TERCEIRO SETOR": SOLUÇÃO PARA O DESEMPREGO OU EFEITO CURATIVO?

Texto para debate:


"O TERCEIRO SETOR": SOLUÇÃO PARA O DESEMPREGO OU EFEITO CURATIVO?

Autor: Prof. Felipe Luiz Gomes e Silva (disc. análise crítica da teoria organizacional)


O objetivo deste artigo é realizar uma breve reflexão sobre o significado do conceito "terceiro setor" . O que é "terceiro setor"? Para Fernandes (1997), é uma expressão de linguagem que foi traduzida da língua inglesa, sendo "portadora de uma ambiciosa mensagem: além do Estado e do mercado há um terceiro personagem" (p.9). Ao lado dos sindicatos e de várias associações profissionais há outros recortes associativos que não se estruturam segundo a clássica divisão capital versus trabalho (FERNANDES, 1997). Segundo Coelho (2000), esta expressão foi usada pela primeira vez, na década de 1970, por pesquisadores estadunidenses. No entanto, há indicações de que o termo surgiu, inicialmente, como uma referência feita pelo magnata Rockfeller à vitalidade da comunidade estadunidense (LANDIM, 1999).

Sabemos que qualquer conceito é apenas uma aproximação da realidade, a qual pode se manifestar de variadas formas, ou seja, depende muito do contexto histórico, social e político, do tempo e do lugar; a palavra é um instrumento ideológico por excelência (BAKHTIN, 1997).
O pesquisador Rubem C. Fernandes (1994,p.21) assim demarca as fronteiras entre o "Primeiro, Segundo e Terceiro Setores" :





Como podemos observar, definido pelos seus fins, o denominado "terceiro setor" é composto por agentes privados que buscam a realização de objetivos coletivos e /ou públicos. Desta forma, há, segundo esse autor , clara coincidência com os objetivos do Estado.

O segundo setor é organicamente composto por agentes que buscam objetivos privados, ou seja, orienta-se, primariamente, pelos interesses do mercado, pauta-se pela competição e pelos lucros. Quando os agentes estatais buscam fins privados encontram-se no espaço da corrupção, dito de outra forma, as condutas pautam-se pelas "políticas de favores", pelo clientelismo, nepotismo e personalismo.

Afirma Fernandes (1994) que o "terceiro setor denota um conjunto de organizações e iniciativas privadas que visam à produção de bens e serviços públicos. Este é o sentido positivo da expressão. Bens e serviços públicos, neste caso, implicam uma dupla qualificação: não geram lucros e respondem a necessidades coletivas" ( p.21). "O conceito é certamente amplo e passível de qualificações sob diversos aspectos. As variações ocorrem, e os casos fronteiriços suscitam disputas polêmicas, como acontece com qualquer classificação" (1995, p.32).

Como exemplos de instituições que pertencem ao "terceiro setor" podemos citar: a Fundação Abrinq (São Paulo), o Projeto Axé de Educação Infantil e Adolescente (Salvador), o Orfanato Renascer (Araraquara), o Instituto Ethos (São Paulo) e também todo um conjunto de entidades assistenciais e caritativas que competem entre si na busca de recursos financeiros e de parcerias no mercado solidário.

É importante lembrar que a Câmara Americana do Comércio criou, em 1982, o Prêmio Eco, que tem por objetivo valorizar iniciativas de empresas que apóiam e/ou desenvolvem projetos sociais. A Fundação Roberto Marinho, a Fundação Acesita e a Schwab são bons exemplos de estimuladores do desenvolvimento do "mercado solidário".

Assim, em razão da diversidade de instituições e de objetivos, a noção "terceiro setor" é imprecisa e problemática. Para nós, a questão não se resume a uma mera dificuldade formal de classificação, como já apontamos acima, resulta de seu "caráter eminentemente ideológico"; ideológico no sentido de ocultamento da realidade concreta, ou seja, a não superação do mundo da aparência.

Na realidade, as organizações abrangidas por essa noção são diversas e diferenciadas, heterogêneas e até contraditórias. Apresentam diferenças em suas origens históricas, em suas finalidades, em suas maneiras de se relacionar com o Estado, com a sociedade e com o mercado. De modo geral têm seu campo de trabalho limitado e condicionado pelas fontes de financiamento e pelo nível de pobreza presente nas diversas nações e regiões (SILVA, 2004).

De acordo com Oliveira (1995, p.7), as Organizações Não-Governamentais, por exemplo, "são importantes elementos de ativação da sociedade em geral quando fazem o trabalho de passagem das carências para os direitos".
Indagamos: quantas organizações, de fato, superam o assistencialismo, realizam os direitos sociais e ultrapassam a filantropia e/ou mero gerenciamento da pobreza?
Ressaltemos que, para Fernandes (1994),o "terceiro setor" não pretende substituir a ação do Estado, a sua dinâmica deve ser complementar; é fruto das insuficiências e dos limites da atuação do mercado.

Mas, como sabemos, independentemente da vontade e das boas ações humanas, o denominado "terceiro setor" tem, na realidade, crescido em conseqüência das perversas políticas neoliberais. Com a "crise" do Estado de Bem Estar Social (nos países centrais) e do Estado Desenvolvimentista (nos países periféricos), a ideologia do "terceiro setor" passa a ser funcional/operacional às políticas do capitalismo neoliberal, ocultando as raízes estruturais do desemprego, da precarização do trabalho, da pobreza e da indigência (MONTÃNO, 2002; SILVA, 2004, 2006).

O Estado não é um setor autônomo voltado, necessariamente, para o bem estar social. No capitalismo monopolista, articula, de forma particular, as funções econômicas e políticas (NETTO, 2005). Os voluntários que atuam no denominado "terceiro setor" contra a fome e a miséria só na aparência são livres cidadãos.
A questão fundamental é: sem romper com o modo de produção capitalista, será possível combater a indigência e construir uma nova sociabilidade humana por meio das ações do primeiro, segundo e terceiro setores?

Para Claus Offe a resposta é positiva, uma nova sociabilidade será construída mediante uma sintonia fina entre o primeiro, segundo e terceiro setores. Atores coletivos da sociedade civil demarcarão as fronteiras e a relação entre o Estado, o mercado e o "terceiro setor", todos comporão, de forma harmônica, um arranjo social novo e superior. Grande parte dos desempregados será cuidada pela solidariedade religiosa ( 1999, apud SILVA, 2006, p. 45).
O estadunidense J. Rifkin também defende a tese da possibilidade de humanizar o capitalismo por meio da articulação dos três setores; os donos do capital, as corporações, deverão reduzir a jornada do trabalho e investir em ações comunitárias solidárias. Para ele, com o crescimento de desemprego estrutural e da miséria, estamos diante de dois riscos: o crescimento da população carcerária e a emergência de ideologias políticas extremistas. Só as ações do "terceiro setor" salvarão o capitalismo e a democracia (RIFKIN,1997).

Como é evidente, o acelerado crescimento do chamado "terceiro setor" é fruto da lógica da acumulação ampliada do capital, do aumento da população que vive no inferno da indigência e que constitui o peso morto do exército de reserva. Segundo R. Castel (1998), são todos os supranumerários, os não empregáveis, inúteis para o mundo; em 1988, na França, somente um estagiário em quatro e um trabalhador precário em três encontraram um emprego estável ao final de um ano. Sendo assim, a expressão interino permanente não é um jogo de palavras.

O pauperismo do século XXI é produzido pela riqueza concentrada nas mãos de poucos, o que, de fato, é um efeito da própria natureza do modo de produção capitalista, da dinâmica da economia monopolista que opera sob um regime de acumulação mundial predominantemente financeiro.
No Brasil, por exemplo, sãos gastos R$ 7 bilhões com 11,1 milhões de famílias integradas no Programa Bolsa Família, enquanto R$ 110 bilhões remuneram os poderosos detentores dos títulos da dívida pública. Entre janeiro de 2003 e outubro de 2006, as empresas transnacionais, sediadas no país, repatriaram nada menos do que US$ 18,9 bilhões,112% a mais do que a era Fernando Henrique Cardoso (1998-2002).

Portanto, o pauperismo e a indigência (superpopulação supérflua) da América Latina e do "terceiro mundo" somente serão superadas com a construção de uma nova sociabilidade humana livre da lógica da acumulação, do desenvolvimento das forças destrutivas e da dependência do capital mundial. O assistencialismo, a mera caridade legal e a filantropia, práticas inerentes ao chamado "terceiro setor" e às políticas "pseudoliberais" (SARTRE,1987), talvez possam, por algum tempo, "animar" parte da sociedade, e amenizar o sofrimento humano, simples efeito curativo (KURZ, 1997).

Mas nem como efeito curativo tem cumprido sua promessa de incluir no mercado formal os desempregados, a produção em escala de trabalhadores precários no terceiro mundo e na América Latina tem sido acelerada pela aplicação dos Planos de Ajustes Estruturais (superávit fiscal, redução do déficit da balança comercial, desmontagem da previdência, liberalização financeira e comercial, (des)regulamentação dos mercados e a privatização das empresas estatais) "recomendados " pelo Banco Mundial. As pesquisas do Observatório Urbano das Nações Unidas (ONU) alertam que em 2020 a pobreza no mundo atingirá cerca de 45% do total de habitantes das cidades.

Em Lagos, Nigéria, a classe média desapareceu, o lixo produzido pelos poucos e cada vez mais ricos compõe a cesta de alimentos que freqüenta a mesa dos trabalhadores (as) pobres. No Brasil, o denominado mercado informal já atinge mais de 51% da população, na América Latina, 57% e na África, 95% (DAVIS, 2004).

Empresas transnacionais ameaçam o os povos e a natureza na América Latina, como, por exemplo, a terceira empresa produtora de ouro do mundo, a canadense Barrick Gold Corporation, com o possível uso de drenagens ácidas, coloca 70 mil habitantes do vale do rio Huasco, no Chile, em situação de risco. Há no Chile 47 empresas multinacionais mineradoras, as quais retiraram, nos últimos 12 anos, 23 toneladas de minerais, no valor de 43 bilhões de dólares, e, com apoio do poder local, sem pagar impostos; dois terços dos trabalhadores são temporários, não têm direitos trabalhistas e recebem um quinto do que ganham os mineiros contratados pela Codelco, empresa estatal (DANTAS, 2007).

Sabemos que muitas corporações internacionais ajudam programas de desenvolvimento local, organizações caritativas, instituições culturais, pequenas cooperativas populares, etc. São generosas práticas de "governança corporativa" que integram seus programas de marketing social. Mas como convencê-las a abrirem mão dos seus lucros extraordinários, praticarem justiça social e respeitarem o ambiente natural dos países do terceiro mundo? Elas apoiarão programas de distribuição de renda, reforma agrária e urbana, melhorias reais na educação e na saúde públicas universais?

Dificilmente os agentes e os pesquisadores universitários que apoiam as ações do "terceiro setor" perguntam quais são as origens históricas e estruturais da pobreza e da miséria dos países dependentes. É preciso não abandonar a visão de totalidade social e considerar que o local não pode ser entendido como divorciado do mundial (local míope) e, principalmente, da livre presença das transnacionais e das transações financeiras globais que, junto com os Programas de Ajuste Estrutural (PAEs), recomendados pelo Banco Mundial, provocam devastadores ciclones sociais ( DAVIS, 2004;MÉSZÁROS, 2006).

Atualmente, cerca de 180 milhões de pessoas estão em evidente situação de desemprego aberto, isto é, procurando e não encontrando trabalho seguro, e somente 20% da população mundial tem acesso à proteção social adequada. (Organização Internacional do Trabalho � 9/11/2006).
Mesmo nos Estados Unidos da América, lócus privilegiado das ações ditas solidárias, o "terceiro setor" não superou os problemas sociais. Os Estados Unidos apresentam a vigésima taxa de mortalidade infantil do mundo, 1/3 das crianças em idade escolar estão sem vacinas básicas, 50% dos esquizofrênicos vivem nas prisões ou nas ruas, 31 milhões de seres humanos não têm cobertura de saúde, 5 milhões sem tetos, etc.(PETRAS,1996).

Em resumo, as ações locais, com ou sem apoio das corporações e do Banco Mundial, são limitadas e não questionam as raízes estruturais do desemprego, da pobreza e da precarização do trabalho. Muitas empresas, na realidade, enquanto praticam o denominado "marketing do bem" e a "solidariedade que aparece", (BUCCI, 2004) exploram ao máximo os seres humanos e os recursos naturais da América Latina e do terceiro mundo.

Muitas destas ações corporativas têm por objetivos claros "educar" lideranças rebeldes e prevenir a emergência de lutas sociais radicais, "são proponentes de novos contratos que restabelecem vínculos de solidariedade transclassistas e comunidades pensadas com inteira abstração dos "novos" dispositivos de exploração do trabalho (NETTO,2005,p.160), a "flexploração" e a terceirização dos operários (SILVA, 2004).

Será possível realizar, no século XXI, a utopia da cidadania plena - igualdade, fraternidade e liberdade - no interior da ordem social capitalista contemporânea?


Referências Bibliográficas:

BAKTHIN, Mikhail Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo Hucitec, 1997.
BUCCI, Eugenio A solidariedade que não teme aparecer In: Kehl, Maria R. e Bucci, E. (Orgs.) Videologias: ensaios sobre a televisão São Paulo: Boitempo, 2004. p.180 � 7.
BARRICK GOLD CORPORATION � Corporate Responsability, 2007. Disponível em: http://www.barrick/.com > Acesso em 07/04/07.
CASTEL, Robert Metamorfoses da questão social Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
COELHO, Simone de C. T. Terceiro Setor: um estudo comparado entre o Brasil e os Estados Unidos São Paulo: SENAC, 2000
DAVIS, Mike Planeta Favela São Paulo: Boitempo, 2004.
DANTAS, Pedro Desastre à vista. Revista Fórum, n. 48, março, ano 5, 2007, p.30-31.
FERNANDES, Rubem C. - " O que é Terceiro Setor? In: 3 Setor: Desenvolvimento Social Sustentado (org) Ioschpe, E. R. de Janeiro: Paz e Terra,1997.
FERNANDES, Rubem C. Privado Porém Público: O Terceiro Setor na América Latina, R. Janeiro: Relume - Dumará, 1994.
FERNANDES, Rubem C. - Elos de Uma Cidadania Planetária. Revista de Ciências Sociais 28-10/jun/1995.
LANDIM, Leilah Notas em torno do terceiro setor e outras expressões estratégicas, "O Social em Questão", n.4, "Enfrentamentos da questão social". Rio de Janeiro, Departamento de Serviço Social, PUC- Rio, 1999.
MÉSZÁROS, István O século XXI: socialismo ou barbárie. São Paulo: Boitempo,2006.
MONTAÑO, Carlos Terceiro Setor Questão Social São Paulo: Cortez, 2002.
NETTO, José Paulo � Capitalismo Monopolista e Serviço Social São Paulo: Cortez, 2005.
PETRAS, James Intelectuais: uma crítica marxista aos pós-marxistas. Revista Lutas Sociais n. 1- 2 semestre, p. 1-27, São Paulo: Xmã,1996.
OLIVEIRA, Francisco A questão do Estado: Vulnerabilidade Social e Carência de Direitos- CNAS. Cadernos ABONG, out.1995.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 3/11//2006 Disponível em : http://www.oitbrasil.org.br/>. Acesso em 9 nov. 2006.
RIFKIN, Jeremy Identidade e Natureza do Terceiro Setor In: 3 Setor: Desenvolvimento Social Sustentado (Org.) Ioschpe, E. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
SARTRE, Jean � Paul Sartre no Brasil a conferência de Araraquara São Paulo: UNESP, 1986.
SILVA, Felipe Luiz Gomes e A fábrica como agência educativa. Araraquara: Laboratório Editorial/ FCL/UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica Editora, 2004.
SILVA, Felipe Luiz G. e Os profetas de uma terra prometida: o "terceiro setor" in: Vieitez, Candido G. e Dal Ri Neusa M. (orgs) Organizações e Democracia, UNESP Marília, v.7, n.1/2, 33-50, Jan.-Jun.-Dez., 2006.
KURZ, Robert Para além do Estado e do mercado e Torpor do Capitalismo In: Os últimos combates, Rio de Janeiro. Vozes,1997.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Barbárie na USP

Enquanto aqui na UFT estamos na iminência de um evento que vai discutir "a crise de civilização" , contando com a presença notável de Edgar Morin, lamentavelmente vemos a truculência avançar sobre a nossa USP, berço de um pensamento autônomo brasileiro, de criação e inovação inclusive de uma "civilização brasileira"... explicitamos nosso repúdio a tal ato de repressão, regressão, covardia e barbárie!


Reproduzimos abaixo texto solicitando apoio de toda a sociedade brasileira e intervenção do Ministério da Educação do Brasil.


Para assinar esta petição, basta acessa o link abaixo:(http://www.petitiononline.com/uspmay09/petition.html).




USP PARA TODOS


To: Ministério da Educação do Brasil

POLICIAIS, CORRUPTOS E FASCISTAS: FORA DA USP !



Mais uma vez a polícia invade e ocupa o Campus da Universidade São Paulo. Mais uma vez o grito da ordem estúpida, acompanhado pelo barulho dos tacões, pelo cassetete mudo e pelo revolver desembainhado, ecoa pelas alamedas da cidade universitária e pelos corredores dos prédios de aulas. Calam-se o trabalho, a educação, a ciência, a arte e a cultura. A palavra está com Sua excelência, a pistola 45 e com sua senhoria, o spray pimenta. E, por detrás destas, com os ratos que há décadas saqueiam o bem coletivo e que se consideram proprietários da USP: pelegos, dedo duros, carreiristas, plagiadores, idiotas, negocistas, fraudadores, aproveitadores, enfim, aqueles que tomam a USP como sua propriedade privada, como um bem particular que usufruem e negociam nos cantos escuros dos gabinetes e das salas de diretorias.



Em 64 o exército e a polícia invadiram a USP para nela matarem a civilização brasileira que havia transformado a universidade num centro de produção de liberdade e riqueza coletivas. O pensamento crítico criador incorporado nas magníficas figuras de Mario Schemberg (Instituto de Física), Cruz e Souza (Filosofia), Samuel Pessoa, Luiz Hildebrando Pereira da Silva e Erney P. de Camargo (medicina-parasitologia), Isaias Raw e Júlio Puddles (medicina- bioquímica), Michel Rabinovitch e Thomas Maack (medicina-Histologia), Pedro Henrique Saldanha (medicina-Genética humana), Abram B. Fajer (medicina-fisiologia), Roland Vera Saldanha, Reynaldo Chiaverini, José Barros Magaldi, Israel Nussenzveig, Antonio Branco Lefèvre e José Maria Taques Bittencourt (medicina-clinica), João Villanova Artigas (Arquitetura), Mário Wagner (Economia), Caio Prado Júnior (História), Clarismundo de Souza Filho (medicina Ribeirão Preto), Paulo Guimarães da Fonseca, (escola Politécnica) foi substituído por uma gestão onde a universidade passou a se curvar a insegurança, opressão e violência causadas pela tortura psicológica moderna – a terceirização e o conseqüente medo do desemprego .



Em dezembro de 68, no malfadado AI-5, novamente o exército e a polícia invadiram o campus para concluir a liquidação do pensamento docente e para massacrar o movimento estudantil que se revoltara contra o obscurantismo fardado que tomara o poder. Por dez anos permaneceram nas alamedas, nos corredores, nas diretorias, nos laboratórios e nas salas de aula prendendo, matando e oprimindo professores, estudantes e trabalhadores. Transitaram livremente, com poder de vida e de morte sobre os uspianos, toda uma caterva de sub humanos , que disseminaram terror principalmente na juventude buscando dela extirpar a justa rebeldia.





Agora, no milênio dois, volta a polícia ao campus para liquidar com a última força de resistência humana que ainda resta na USP: os trabalhadores organizados. A farsa diz que a universidade foi tomada pelos trabalhadores e que a polícia vem para devolve-la aos estudantes e professores. A verdade é que se trata do último capítulo da tragédia da destruição da USP, iniciada em 64 e que agora deve se encerrar com a sua tomada definitiva das mãos da população e sua entrega aos ratos que já roeram e consumiram grande parte da riqueza brasileira – a educação. E o que acontecerá se a sociedade, os professores, estudantes e funcionários - que desejam uma USP viva, humana, trabalhadora, popular, produtiva e criadora da civilização brasileira - e que são maioria, não se mobilizarem e se unirem para repelir este ataque final dos inimigos da humanidade?



TRABALHADORES, ESTUDANTES E PROFESSORES, POPULAÇÃO EM GERAL, UNAMO-NOS CONTRA O GOLPE DAQUELES QUE QUEREM O FIM DA NOSSA UNIVERSIDADE! TODOS PELA AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA! FORA POLÍCIA! FORA SERRA! FORA FASCISTAS! FORA CORRUPTOS! TODOS À ASSEMBLÉIA UNIVERSITÁRIA! PELA UNIÃO DE TODOS OS USPIANOS CONTRA A INTERVENÇÃO POLICIAL! QUE A USP RETORNE À CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA!



Nós, abaixo assinados, pedimos ao Ministério da Educação do Brasil que intervenha para garantir uma universidade pública, gratuita e de qualidade em respeito ao direito constitucional de acesso à educação Some a sua assinatura e lutemos por uma universidade democrática
Sincerely,
The Undersigned

domingo, 14 de junho de 2009

EDGAR MORIN: uma inteligência contra o mal-estar contemporâneo.

EDGAR MORIN: uma inteligência contra o mal-estar contemporâneo.


"Não sou senão um crítico e um homem negador".

Edgar Morin



A despeito das divergências, Edgar Morin é unanimidade quando o assunto é revolta consciente “contra classificações disciplinares”.

Com seus quase noventa anos de idade, o mestre francês constrói uma das mais sólidas e penetrantes leituras de nossos problemas. Seu trabalho é extraordinário, com ele, conforme atesta Michel Cassé, entramos numa espécie de revolução copernicana. O paradigma dominante, centrado na disjunção e no reducionismo, é desmascarado e outro modelo, que ouso chamar de “transessencial”, se abre ancorado na complexidade.

Os pressupostos da ciência tradicional são trincados por Morin forçando, digamos, crises no chamado saber objetivo como na própria razão. Afinal, a supremacia de um paradigma – Simplicidade, Estabilidade e Objetividade - com mais de quatrocentos anos, não se sustenta à luz dos problemas fundamentais e globais, sobretudo quando comparado com os eixos da ciência hodierna – Complexidade, Instabilidade e Subjetividade. Naquela filosofia, os fenômenos são estudados a partir de crenças totalitárias, de certezas absolutistas. Nesta, tudo não vai além de aberturas, mudanças e flutuações.

Morin é incansável quanto ao problema do conhecimento. Na sua ótica, este é nosso maior desafio. Seu alerta é claro: “é necessário ensinar quais são as armadilhas e ilusões que fazem parte do conhecimento”. Segundo ele, isso que nos passam em nome do conhecimento, no fundo, é farsa, pois “nos impossibilita de fazer conexões/pontes entre diversos tipos de conhecimento”. Portanto, não existe caminho mais adequado para este enfoque, sintetizado na expressão “Transdisciplinariedade”, do que a complexidade.

Essas classificações, essas separações, essas disjunções, enfim, esses reducionismos, têm levado a humanidade ao caos, às catástrofes, a um tipo fragmentar de consciência que ignora por completo o fator incerteza. Hoje, diz, só nos dão certezas. Essa estrada científica (tradicional) me faz lembrar das palavras-martelo de Nietzsche: “Dizer que somente vale uma interpretação do mundo que dê razão a vocês, senhores cientistas, uma interpretação que os autorize a procurar e a perseguir trabalhos no sentido que vocês entendem (é mecânico que pensam, não é verdade?), que só vale uma interpretação do mundo que outra coisa não faz senão contar, calcular, pesar, ver e tocar, é estupidez e ingenuidade, se é que não é demência ou idiotice”.

Edgar Morin é, sem dúvida, um reencantador da Vida. Se de um lado nos aponta fissuras na ciência, incluindo, claro, a sua transformação em religião. Por outro, nos indica algumas pistas de saída. Seu pensamento é fonte abalizada para enfrentarmos as mais diversas e sutis ditaduras político-intelectuais. Os brasileiros somos admiradores de seu trabalho por, nas palavras de Alfredo Pena-Vega, ser uma proposta de um pensamento consistente, de uma virtude heurística questionadora, de dúvida e também de humildade: a modéstia diante da infinita complexidade do mundo real, a estupefação com relação aos acasos dos acontecimentos, a auto-reflexão inquieta face às contradições da ação, a incerteza diante da aventura humana.

Que sua passagem por Tocantins seja, de fato, um marco, que seja uma experiência de reais transcendências. Valeu, mestre!!!



Ary Carlos Moura Cardoso
Mestre em Literatura pela UnB
Pós-Graduado em Filosofia –UGF
Pós-Graduado em Administração da Educação,
Políticas, Planejamento e Gestão - UnB
Professor da UFT

Professor da Próxima Disciplina

Disciplina: Análise Crítica da Teoria Organizacional (10, 11 e 12 de julho)

Professor: Felipe Luiz Gomes e Silva


Currículo do Professor:

CURSO UNIVERSITÁRIO
Administração de Empresas - Escola de Administração de Empresas da Universidade Federal de Pernambuco, Recife. Período: 1967 a 1970.

CURSOS PÓS-GRADUAÇÃO

. Curso de Mestrado em Administração de Empresas
Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Área de Concentração: Teoria e Comportamento Organizacionais.
Orientador: Prof. Dr. Fernando C.Prestes Motta.
Título da Dissertação "Origens das Organizações Modernas: uma perspectiva histórica (burocracia fabril)

. Curso de Doutorado em Sociologia.
Faculdade de Ciência e Letras da Universidade Estadual Paulista – Campus Araraquara.
Título da Tese: “Gestão da Força de Trabalho e Capital: Do Paradigma Taylorista-Fordista de Produção em Massa ao Sistema de Produção em Massa Flexível”



SEMINÁRIOS, ENCONTROS, CONGRESSOS. (Alguns)

. VII The Third Biennial Conference, Culture, Technology and Change in The Americas.
Período: April 5-9 de 1995. Na University of South Florida – Trabalho apresentado: A Noção de Racionalidade na Teoria Organizacional: O falso confronto entre as idéias dos pioneiros da organização do trabalho e o movimento de relações humanas.(Publicado nos Anais- pp.247 a 259)
. XX Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós -Graduação em Administração.
Período: 22 a 25 de setembro de 1996.Local Club Med, Mangaratiba, Rio de Janeiro. Trabalho apresentado: Teoria Organizacional e Gestão de Recursos Humanos: Do Paradigma Clássico de Produção em Massa ao Sistema Toyota de Produção. (Publicado nos Anais. P.85).
. 49a Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Período: 13 a 18 de julho de 1997.Local: Belo Horizonte Trabalho apresentado: Gestão da Força de Trabalho e Capital: do Paradigma Taylorista - Fordista de Produção em Massa ao Sistema de Produção em Massa Flexível Dia 16/07/97.(Resumo Publicado nos Anais-p. movimento de relações humanas e o Sistema Toyota de Produção. (Resumo publicado nos Anais-página 02)
. 54ª Reunião da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência – UFPe.- Recife. Julho de 2003. Trabalho aceito: A organização e a gestão dos recursos humanos por meio dos estoques: uma abordagem crítica.
. XII Congresso Nacional dos Sociólogos: A Profissão de Sociólogo numa Era de Incerteza.
Realizado na Universidade Federal do Paraná – Curitiba. 1 a 4 de abril de 2002. Trabalhos Apresentados:
“O Discurso eficientista na teoria organizacional: uma análise crítica.” (Resumo publicado nos Anais p.83 e Trabalho publicado em CD - ROOM).
“O Sistema de Produção em Massa Flexível e a ideologia do Trabalho Qualificado: Uma Forma de Apropriação da Subjetividade Humana”.(Resumo publicado nos Anais p.67 e Trabalho publicado em CD - Room).
. XVII Encontro de Psicologia e IV – Encontro de Pós-Graduação em Psicologia – 10 a 13 de setembro 2002.
Universidade Estadual Paulista – Campus de Assis.
Mesa Redonda: Gestão da Força de Trabalho e Apropriação da Subjetividade. Data: 13 de setembro de 2002
Debatedores: Leny Sato (USP – S. Paulo) e Felipe Luiz Gomes e Silva. (UNESP).


JORNADAS CIENTÍFICAS

. Jornada Maurício Tragtenberg: Uma Vida para as Ciências Humanas. Promovida pelo Departamento de Administração Escolar da UNESP-Campus de Marília-realizada no período 23 a 27 de agosto de 1999. Conferência Proferida: Uma Breve Reflexão Sobre as Harmonias Administrativas: de Frederick W. Taylor a Taiichi Ohno. (Publicado In: “Maurício Tragtenberg: Uma vida para as Ciências Humanas” Silva, D. e Marrach, Sonia (orgs.) São Paulo: Editora Unesp, 2001)Data: 15 de maio de 2002.


. VIAGENS CULTURAIS E DE ESTUDOS

a)Viagem cultural aos Estados Unidos da América do Norte. Selecionado pela USIS/SUDENE após participação no Seminário Regional de Economia - Recife. Critério de seleção: trabalho escrito sobre o desenvolvimento regional.
b)Viagem cultural a Lisboa maio/junho de 2001.
Visita técnica à Universidade Técnica de Lisboa e em especial ao Curso de Administração Pública.
-Participação como ouvinte: Conferência “A Caverna e suas implicações”. Proferida pelo Dr. José Saramago.
Data: 25 de maio de 2001. Promoção: Instituto Cervantes de Lisboa-Portugal
-Participação como ouvinte: “Problemas Actuais da Economia Européia”. Promoção: Fundação Calouste Gulbenkian-Lisboa-Portugal. Data: 01 de junho de 2001.


ARTIGOS, LIVROS e RESUMOS PUBLICADOS (Alguns)


As Origens das Organizações: Uma Perspectiva Histórica. Revista de Administração de Empresas (RAE) da FGV - Vol. 26, no 4 outubro/dezembro 1986.
A Linha de Montagem no Final do Século. RAE/FGV - vol. 26, no 4 outubro/dezembro - 1986.
. A Organização do Trabalho na Linha de Montagem e a Teoria das Organizações. RAE/FGV - vol. 27, no 3 - 1987.
. Gestão da Força de Trabalho e Capital. Revista Estudos de Sociologia - Ano 2, número3, 1997 - Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, Araraquara.
ISNN-14114-0144 páginas 35 a 54.
Capítulo de Livro: Uma Breve Reflexão Sobre As Harmonias Administrativas: De Frederick W. Taylor a Taiichi Ohno. (Publicado In: Maurício Tragtenberg: Uma vida para as Ciências Humanas. Silva, Doris A e Marrach, Sonia (organizadoras) S.Paulo: Editora Unesp. 2001. ISBN· 85-7139-359-1).

Artigos:

.A organização e a gestão de recursos humanos por meio de estoque: uma abordagem crítica.
Revista Organizações e Democracia- Marília, n.3, 2002 (Unesp)Vieitez, C. G e Dal Ri, N.M. (Orgs.)
.A apropriação da subjetividade da classe trabalhadora: burocracia e autogestão.
Revista Organizações e Democracia, Marília, v.5 n. 1. 2004 (Unesp).
.Os profetas de uma terra prometida:o terceiro setor.
Revista Organizações e Democracia, Marília, v.7., n. 12, 2006(Unesp).

Livro publicado:

Título: A fábrica como agência educativa. Editora Cultura Acadêmica .Laboratório Editorial da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista. Ano de 2004.
Membro do Grupo Acadêmico-FCL/UNESP.
Grupo de Pesquisa em História Econômica e Social Contemporânea (GPHEC).

. ATIVIDADES DE MAGISTÉRIO

Professor da Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo - São Carlos.
. ATIVIDADE ATUAL
Professor Assistente - Doutor da Universidade Estadual Paulista.
Faculdade de Ciências e Letras - Campus Araraquara
Departamento de Administração Pública
São Carlos, setembro de 2007.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Legalização da Grilagem

Debate muito sério e urgente... qual será o futuro do nosso povo, dos nossos filhos e netos, diante de tamanha usurpação!!! Segue abaixo artigo reproduzido do sítio: correio da cidadania.


Legalização da grilagem

O governo legalizou a grilagem. Não é a primeira vez.

No período colonial e no império houve diversas dessas legalizações. A mais escandalosa até o presente foi a legalização permitida pela Lei de Terras de 1850. O Registro Paroquial instituído por essa lei permitia aos poderosos fazendeiros, mediante simples declaração, legalizar posses com o vigário da sua cidade, cabendo ao declarante indicar o tamanho e os limites dessas terras! Desse modo, as sesmarias caducas (terras públicas, portanto) foram legalizadas e formaram os enormes latifúndios que perpetuam até hoje a escandalosa concentração da propriedade da terra. Mas, agora, a Medida Provisória 458, aprovada esta semana no Senado, foi mais longe: entregou 67 milhões de hectares de terras a grileiros que tomaram posse ilegalmente de terras devolutas já arrecadadas pelo Estado e matriculadas nos registros públicos como terras públicas. Desse modo, pessoas que deveriam ser criminalmente processadas foram aquinhoadas com a faculdade de comprar, por dá cá aquela palha, as terras que usurparam da reforma agrária. A medida é totalmente inconstitucional e visa unicamente "lavar" títulos ilegítimos de terra (como se lava dinheiro do narcotráfico) para que seus detentores - os grileiros - possam transferi-los aos mega agronegócios nacionais e estrangeiros.

Esses honrados empresários não querem confusão com a Justiça quando forem montar as enormes fazendas de produção de soja, cana-de-açúcar para fabricação de etanol, carne e exploração madeireira naquela região. Além de inconstitucional, a Medida Provisória representa um enorme prejuízo ecológico, pois já não há mais quem desconheça que a região amazônica é imprópria para o tipo de exploração que essas empresas irão implantar.

Infelizmente, o estado de anomia da sociedade brasileira é tamanho que uma monstruosidade destas passa no Congresso sem maiores manifestações dos diversos setores sociais. Se nem a entrega de terras que a Constituição destinou à reforma agrária nem o comprometimento do equilíbrio ecológico de uma região sabidamente vulnerável conseguem tirar a opinião pública do estado letárgico em que se encontra, não há muita esperança de que a consideração do risco à soberania nacional sobre aquela região consiga provocar alguma reação. De qualquer forma, contudo, é preciso deixar registrado aqui: a Medida Provisória, agora convertida em lei, se não for fulminada pela Justiça, marcará o início de um novo período na história do país – uma mudança de qualidade no histórico de "entreguismo" da burguesia brasileira.

Até hoje essa burguesia desfibrada entregou ao capital estrangeiro a propriedade da indústria, das finanças, do comércio e dos serviços. Mas ainda não havia cedido a propriedade da terra, porque o domínio da terra é a condição primeira da soberania. Não é preciso lembrar o Acre para saber o que acontece quando um país deixa que a maioria das terras de uma região caia em mãos de estrangeiros. Na década de setenta, os militares, preocupados com a compra de terras por estrangeiros na Amazônia, fizeram editar uma lei que punha limites nessas transações. A conjuntura que estamos vivendo é a mais adversa que a Nação brasileira já enfrentou, de modo que toda reação parece inútil.

Mas que ninguém se iluda: a história cobrará desta geração a entrega da Amazônia ao capital estrangeiro. Quem não quiser que seus descendentes carreguem essa vergonha, precisa se manifestar agora.

Fonte: Editorial do Correio da cidadania.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

VIDAS DESPERDIÇADAS...

Diante de auschwitzs encapotados,
sistemas para os quais és seringa usada,
não é justo te indignares?


De norte a sul, inspetores-sentinela descem a chibata:
produzem refugos,
cavam abismos...

Tantas câmaras de gás num big brother infame:
não há responsáveis, só julgamentos,
é a Ordem, é o Progresso.

Nesse carro da estupidez assentam-se os de sempre,
prestam culto a mamom, falam de “infinitude”,
e dos caixas eletrônicos saem suas canções preferidas.

No maquinário financeiro não há razão no existir,
tudo é linha de montagem do lucro. És dispensável,
podes viver no depósito de dejetos.

Geração das aflições, com crachás abortivos,
cadáveres belos a caminho do lixão,
não é justo te indignares?



Ary Carlos Moura Cardoso

domingo, 7 de junho de 2009

referências e atividades (disc. Metodologia Científica)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS – METODOLOGIA CIENTÍFICA.


ABREU, Antônio Suarez. A arte de argumentar – gerenciando razão e emoção. Cotia-SP: Ateliê, 2004
ANDERY. Maria Amália. Para compreender a ciência. São Paulo: EDUC, 2000.
APPOLINÁRIO, Fábio. Dicionário de metodologia científica – um guia para a produção do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2005.
BAZARIAN, Jacob. O problema da verdade. São Paulo: Alfa-Ômega, 1994.
BOAVENTURA, Edivaldo. Como ordenar as idéias. São Paulo: Ática, 2007.
BOOTH, Wayne C. A arte da pesquisa. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
CARDOSO, Ary Carlos Moura Cardoso. Dos Racionalizadores. Palmas-TO: Jornal do Tocantins, p. 04, maio de 2009.
------------------------------------------------ Da textualidade. Palmas-TO: Jornal do Tocantins, p. 04, março de 2008
CARRAHER, David W. Senso crítico – do dia-a-dia às ciências humanas. São Paulo: Pioneira, 1989.
CHRÉTIEN, Claude. A ciência em ação. Campinas-SP: Papirus, 1984.
CASTRO, Cláudio de Moura. A prática da pesquisa. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1995.
----------------------- A fabricação da ciência. São Paulo: Unesp, 1994.
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 2008.
DEMO, PEDRO. Metodologia científica em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 2009
-------------------- Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas, 1987.
Filho, Eduardo Sucupira. Introdução ao pensamento dialético. São Paulo: Alfa-Ômega, 1984
GARCIA, Regina Leite (Org.). Método métodos contramétodo. São Paulo: Cortez, 2003
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
GONÇALVES, Hortência de Abreu. Manual de metodologia da pesquisa científica. São Paulo: Avercamp, 2005.
------------------------------------------- Manual de artigos científicos. São Paulo: Avercamp, 2004.
------------------------------------------ Manual de projetos de pesquisa científica. São Paulo: Avercamp, 2007.
------------------------------------------ Manual de resumos e comunicações científicas. São Paulo: Avercamp, 2005.
GRANGER, Gilles-Gaston. A ciência e as ciências. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1994.
HESSEN, Johannes. Teoria do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
HÜNE, Leda Miranda (Orgenizadora). Metodologia científica – caderno de textos e técnicas. Rio de Janeiro, 2002.
JAPIASSU, Hilton. A crise da razão do saber objetivo – as ondas do irracional. São Paulo: Letras & Letras, 1996.
MAGALHÃES, Gildo. Introdução à metodologia da pesquisa – caminhos da ciência e tecnologia. São Paulo: Ática, 2006.
MAZZOTTI, Alda Judith Alves & GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais – pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira, 200.
MEYER, Bernard. A arte de argumentar. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (Organizadora). Pesquisa social – teoria, método e criatividade. Petrópolis-RJ: Vozes, 2007.
MOREIRA, Herivelto & CALEFFE, Luiz Gonzaga. Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. Rio de Janeiro: DP&A, 2008.
MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2008.
OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis: Vozes, 2008.
ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio – no movimento dos sentidos. Campinas-SP: Editora da Unicamp, 2002.
QUIVY, Raymond. Manual de investigação em ciências sociais. Gradiva, 1998.
------------------------------- Interpretação – autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis-RJ: Vozes, 1996.
RABUSKE, Edvino. Epistemologia das ciências humanas. EDUCS, 1987.
SANTOS, Antônio Raimundo dos. Metodologia científica- a construção do conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A, 2007.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. São Paulo: Cortez, 2008.
-------------------------------------- (Org.) Conhecimento prudente para uma vida decente – um discurso sobre as ciências revisitado. São Paulo: Cortez, 2006.
SENRA, Nelson de Castro. O cotidiano da pesquisa. São Paulo: Ática, 2000.
SOARES, Edvaldo. Metodologia científica – lógica, epistemologia e normas. São Paulo: Atlas, 2005.
TEIXEIRA, Elizabeth. As três metodologias – acadêmica, da ciência e da pesquisa. Petrópolis: Vozes, 2009
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2007.
TIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais – a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2008.
VAL, Maria da Graça Costa, Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
VASCONCELLOS, Maria José Esteve de. Pensamento sistêmico – o novo paradigma da ciência.Campinas-SP: Papirus, 2202.


Obs. Todos os livros e textos foram apresentados pelo professor quando do primeiro encontro. Três deles estão sendo trabalhados em sala de aula.


O livro “Um Discurso Sobre As Ciências”, de Boaventura de Sousa Santos, deverá ser analisado (estudado) a fim de que seja produzida uma resenha sobre o mesmo. As orientações sobre este tipo de trabalho (resenha) se encontram num texto meu intitulado “Pistas de Como se Fazer Uma Resenha”, encontrado em:

http://recantodasletras.uol.com.br/autores/arycarlos (Clique na seção “Artigos”).


No próximo encontro, definiremos a data para entrega desta atividade avaliativa.



Prof. Ary Carlos Moura Cardoso

sábado, 6 de junho de 2009

Texto para Debate: A delinquencia Acadêmica

A Delinqüência Acadêmica
Maurício Tragtenberg


O tema é amplo: a relação entre a dominação e o saber, a relação entre o intelectual e a
universidade como instituição dominante ligada à dominação, a universidade antipovo.

A universidade está em crise. Isto ocorre porque a sociedade está em crise; através da
crise da universidade é que os jovens funcionam detectando as contradições profundas
do social, refletidas na universidade. A universidade não é algo tão essencial como a
linguagem; ela é simplesmente uma instituição dominante ligada à dominação. Não é uma
instituição neutra; é uma instituição de classe, onde as contradições de classe aparecem.

Para obscurecer esses fatores ela desenvolve uma ideologia do saber neutro, científico, a
neutralidade cultural e o mito de um saber “objetivo”, acima das contradições sociais.

No século passado, período do capitalismo liberal, ela procurava formar um tipo de
“homem” que se caracterizava por um comportamento autônomo, exigido por suas
funções sociais: era a universidade liberal humanista e mandarinesca. Hoje, ela forma a
mão-de-obra destinada a manter nas fábricas o despotismo do capital; nos institutos de
pesquisa, cria aqueles que deformam os dados econômicos em detrimento dos
assalariados; nas suas escolas de direito forma os aplicadores da legislação de exceção;
nas escolas de medicina, aqueles que irão convertê-la numa medicina do capital ou
utilizá-la repressivamente contra os deserdados do sistema.

Em suma, trata-se de “um complô de belas almas” recheadas de títulos acadêmicos, de um doutorismo substituindo o bacharelismo, de uma nova pedantocracia, da produção de um saber a serviço do poder, seja ele de que espécie for.

Na instância das faculdades de educação, forma-se o planejador tecnocrata a quem
importa discutir os meios sem discutir os fins da educação, confeccionar reformas
estruturais que na realidade são verdadeiras “restaurações”. Formando o professorpolicial,
aquele que supervaloriza o sistema de exames, a avaliação rígida do aluno, o
conformismo ante o saber professoral. A pretensa criação do conhecimento é substituída
pelo controle sobre o parco conhecimento produzido pelas nossas universidades, o
controle do meio transforma-se em fim, e o “campus” universitário cada vez mais parece
um universo concentracionário que reúne aqueles que se originam da classe alta e média,
enquanto professores, e os alunos da mesma extração social, como “herdeiros” potenciais
do poder através de um saber minguado, atestado por um diploma.

A universidade classista se mantém através do poder exercido pela seleção dos
estudantes e pelos mecanismos de nomeação de professores. Na universidade
mandarinal do século passado o professor cumpria a função de “cão de guarda” do
sistema: produtor e reprodutor da ideologia dominante, chefe de disciplina do estudante.
Cabia à sua função professoral, acima de tudo, inculcar as normas de passividade,
subserviência e docilidade, através da repressão pedagógica, formando a mão-de-obra
para um sistema fundado na desigualdade social, a qual acreditava legitimar-se através
da desigualdade de rendimento escolar; enfim, onde a escola “escolhia” pedagogicamente
os “escolhidos” socialmente.

A transformação do professor de “cão de guarda” em “cão pastor” acompanha a
passagem da universidade pretensamente humanista e mandarinesca à universidade
tecnocrática, onde os critérios lucrativos da empresa privada, funcionarão para a
formação das fornadas de “colarinhos brancos” rumo às usinas, escritórios e
dependências ministeriais. É o mito da assessoria, do posto público, que mobiliza o
diplomado universitário.

A universidade dominante reproduz-se mesmo através dos “cursos críticos”, em que o
juízo professoral aparece hegemônico ante os dominados: os estudantes. Isso se realiza
através de um processo que chamarei de “contaminação”. O curso catedrático e
dogmático transforma-se num curso magisterial e crítico; a crítica ideológica é feita nos
chamados “cursos críticos”, que desempenham a função de um tranqüilizante no meio
universitário. Essa apropriação da crítica pelo mandarinato universitário, mantido o
sistema de exames, a conformidade ao programa e o controle da docilidade do estudante
como alvos básicos, constitui-se numa farsa, numa fábrica de boa consciência e
delinqüência acadêmica, daqueles que trocam o poder da razão pela razão do poder. Por
isso é necessário realizar a crítica da crítica-crítica, destruir a apropriação da crítica pelo
mandarinato acadêmico. Watson demonstrou como, nas ciências humanas, as pesquisas
em química molecular estão impregnadas de ideologia. Não se trata de discutir a
apropriação burguesa do saber ou não-burguesa do saber, mas sim a destruição do
“saber institucionalizado”, do “saber burocratizado” como único “legítimo”. A apropriação
universitária (atual) do conhecimento é a concepção capitalista de saber, onde ele se
constitui em capital e toma a forma nos hábitos universitários.

A universidade reproduz o modo de produção capitalista dominante não apenas pela
ideologia que transmite, mas pelos servos que ela forma. Esse modo de produção
determina o tipo de formação através das transformações introduzidas na escola, que
coloca em relação mestres e estudantes. O mestre possui um saber inacabado e o aluno
uma ignorância transitória, não há saber absoluto nem ignorância absoluta. A relação de
saber não institui a diferença entre aluno e professor, a separação entre aluno e professor
opera-se através de uma relação de poder simbolizada pelo sistema de exames – “esse
batismo burocrático do saber”. O exame é a parte visível da seleção; a invisível é a
entrevista, que cumpre as mesmas funções de “exclusão” que possui a empresa em
relação ao futuro empregado. Informalmente, docilmente, ela “exclui” o candidato. Para o
professor, há o currículo visível, publicações, conferências, traduções e atividade didática,
e há o currículo invisível – esse de posse da chamada “informação” que possui espaço na
universidade, onde o destino está em aberto e tudo é possível acontecer. É através da
nomeação, da cooptação dos mais conformistas (nem sempre os mais produtivos) que a
burocracia universitária reproduz o canil de professores. Os valores de submissão e
conformismo, a cada instante exibidos pelos comportamentos dos professores, já
constituem um sistema ideológico. Mas, em que consiste a delinqüência acadêmica?

A “delinqüência acadêmica” aparece em nossa época longe de seguir os ditames de Kant:
“Ouse conhecer.” Se os estudantes procuram conhecer os espíritos audazes de nossa
época é fora da universidade que irão encontrá-los. A bem da verdade, raramente a
audácia caracterizou a profissão acadêmica. Os filósofos da revolução francesa se
autodenominavam de “intelectuais” e não de “acadêmicos”. Isso ocorria porque a
universidade mostrara-se hostil ao pensamento crítico avançado. Pela mesma razão, o
projeto de Jefferson para a Universidade de Virgínia, concebida para produção de um
pensamento independente da Igreja e do Estado (de caráter crítico), fora substituído por
uma “universidade que mascarava a usurpação e monopólio da riqueza, do poder”. Isso
levou os estudantes da época a realizarem programas extracurriculares, onde Emerson
fazia-se ouvir, já que o obscurantismo da época impedia a entrada nos prédios
universitários, pois contrariavam a Igreja, o Estado e as grandes “corporações”, a que
alguns intelectuais cooptados pretendem que tenham uma “alma”. [1]

Em nome do “atendimento à comunidade”, “serviço público”, a universidade tende cada
vez mais à adaptação indiscriminada a quaisquer pesquisas a serviço dos interesses
econômicos hegemônicos; nesse andar, a universidade brasileira oferecerá disciplinas
como as existentes na metrópole (EUA): cursos de escotismo, defesa contra incêndios,
economia doméstica e datilografia em nível de secretariado, pois já existe isso em
Cornell, Wisconson e outros estabelecimentos legitimados. O conflito entre o técnico e o
humanismo acaba em compromisso, a universidade brasileira se prepara para ser uma
“multiversidade”, isto é, ensina tudo aquilo que o aluno possa pagar. A universidade, vista
como prestadora de serviços, corre o risco de enquadrar-se numa “agência de poder”,
especialmente após 68, com a Operação Rondon e sua aparente democratização, só nas
vagas; funciona como tranqüilidade social. O assistencialismo universitário não resolve o
problema da maioria da população brasileira: o problema da terra.

A universidade brasileira, nos últimos 15 anos, preparou técnicos que funcionaram como
juízes e promotores, aplicando a Lei de Segurança Nacional, médicos que assinavam
atestados de óbito mentirosos, zelosos professores de Educação Moral e Cívica
garantindo a hegemonia da ideologia da “segurança nacional” codificada no Pentágono.
O problema significativo a ser colocado é o nível de responsabilidade social dos
professores e pesquisadores universitários. A não preocupação com as finalidades sociais
do conhecimento produzido se constitui em fator de “delinqüência acadêmica” ou da
“traição do intelectual”. Em nome do “serviço à comunidade”, a intelectualidade
universitária se tornou cúmplice do genocídio, espionagem, engano e todo tipo de
corrupção dominante, quando domina a “razão do Estado” em detrimento do povo. Isso
vale para aqueles que aperfeiçoam secretamente armas nucleares (M.I.T.), armas
químico-biológicas (Universidade da Califórnia, Berkeley), pensadores inseridos na Rand
Corporation, como aqueles que, na qualidade de intelectuais com diploma acreditativo,
funcionam na censura, na aplicação da computação com fins repressivos em nosso país.

Uma universidade que produz pesquisas ou cursos a quem é apto a pagá-los perde o
senso da discriminação ética e da finalidade social de sua produção – é uma
multiversidade que se vende no mercado ao primeiro comprador, sem averiguar o fim da
encomenda, isso coberto pela ideologia da neutralidade do conhecimento e seu produto.
Já na década de 30, Frederic Lilge [2] acusava a tradição universitária alemã da
neutralidade acadêmica de permitir aos universitários alemães a felicidade de um
emprego permanente, escondendo a si próprios a futilidade de suas vidas e seu trabalho.

Em nome da “segurança nacional”, o intelectual acadêmico despe-se de qualquer
responsabilidade social quanto ao seu papel profissional, a política de “panelas”
acadêmicas de corredor universitário e a publicação a qualquer preço de um texto
qualquer se constituem no metro para medir o sucesso universitário. Nesse universo não
cabe uma simples pergunta: o conhecimento a quem e para que serve? Enquanto este
encontro de educadores, sob o signo de Paulo Freire, enfatiza a responsabilidade social
do educador, da educação não confundida com inculcação, a maioria dos congressos
acadêmicos serve de “mercado humano”, onde entram em contato pessoas e cargos
acadêmicos a serem preenchidos, parecidos aos encontros entre gerentes de hotel, em
que se trocam informações sobre inovações técnicas, revê-se velhos amigos e se
estabelecem contatos comerciais.

Estritamente, o mundo da realidade concreta e sempre muito generoso com o acadêmico,
pois o título acadêmico torna-se o passaporte que permite o ingresso nos escalões
superiores da sociedade: a grande empresa, o grupo militar e a burocracia estatal. O
problema da responsabilidade social é escamoteado, a ideologia do acadêmico é não ter
nenhuma ideologia, faz fé de apolítico, isto é, serve à política do poder.

Diferentemente, constitui, um legado da filosofia racionalista do século XVIII, uma
característica do “verdadeiro” conhecimento o exercício da cidadania do soberano direito
de crítica questionando a autoridade, os privilégios e a tradição. O “serviço público”
prestado por estes filósofos não consistia na aceitação indiscriminada de qualquer projeto,
fosse destinado à melhora de colheitas, ao aperfeiçoamento do genocídio de grupos
indígenas a pretexto de “emancipação” ou política de arrocho salarial que converteram o
Brasil no detentor do triste “record” de primeiro país no mundo em acidentes de trabalho.
Eis que a propaganda pela segurança no trabalho emitida pelas agências oficiais não
substitui o aumento salarial.

O pensamento está fundamentalmente ligado à ação. Bergson sublinhava no início do
século a necessidade do homem agir como homem de pensamento e pensar como
homem de ação. A separação entre “fazer” e “pensar” se constitui numa das doenças que
caracterizam a delinqüência acadêmica – a análise e discussão dos problemas relevantes
do país constitui um ato político, constitui uma forma de ação, inerente à responsabilidade
social do intelectual. A valorização do que seja um homem culto está estritamente
vinculada ao seu valor na defesa de valores essenciais de cidadania, ao seu exemplo
revelado não pelo seu discurso, mas por sua existência, por sua ação.

Ao analisar a “crise de consciência” dos intelectuais norte-americanos que deram o aval
da “escalada” no Vietnã, Horowitz notara que a disposição que eles revelaram no
planejamento do genocídio estava vinculada à sua formação, à sua capacidade de discutir
meios sem nunca questionar os fins, a transformar os problemas políticos em problemas
técnicos, a desprezar a consulta política, preferindo as soluções de gabinete,
consumando o que definiríamos como a traição dos intelectuais. É aqui onde a
indignidade do intelectual substitui a dignidade da inteligência.

Nenhum preceito ético pode substituir a prática social, a prática pedagógica.
A delinqüência acadêmica se caracteriza pela existência de estruturas de ensino onde os
meios (técnicas) se tornam os fins, os fins formativos são esquecidos; a criação do
conhecimento e sua reprodução cede lugar ao controle burocrático de sua produção como
suprema virtude, onde “administrar” aparece como sinônimo de vigiar e punir – o
professor é controlado mediante os critérios visíveis e invisíveis de nomeação; o aluno,
mediante os critérios visíveis e invisíveis de exame. Isso resulta em escolas que se
constituem em depósitos de alunos, como diria Lima Barreto em “Cemitério de Vivos”.
A alternativa é a criação de canais de participação real de professores, estudantes e
funcionários no meio universitário, que oponham-se à esclerose burocrática da instituição.
A autogestão pedagógica teria o mérito de devolver à universidade um sentido de
existência, qual seja: a definição de um aprendizado fundado numa motivação
participativa e não no decorar determinados “clichês”, repetidos semestralmente nas
provas que nada provam, nos exames que nada examina, mesmo porque o aluno sai da
universidade com a sensação de estar mais velho, com um dado a mais: o diploma
acreditativo que em si perde valor na medida em que perde sua raridade.

A participação discente não constitui um remédio mágico aos males acima apontados,
porém a experiência demonstrou que a simples presença discente em colegiados é fator
de sua moralização.

____________
* Texto apresentado no I Seminário de Educação Brasileira, realizado em 1978, em Campinas-SP.
Publicado em: TRAGTENBERG, M. Sobre Educação, Política e Sindicalismo. Sã Paulo: Editores
Associados; Cortez, 1990, 2ª ed. (Coleção teoria e práticas sociais, vol 1)
[1] Kaysen pretende atribuir uma “alma”à corporação multinacional; esta parece não preocupar-se com
tal esforço construtivo do intelectual.
[2] Frederic LILGE, The Abuse of Learning: The Failure of German University. Macmillan, New York, 1948

Mensalidades de JUNHO

até dia 15: R$ 140,00
após o dia 15: R$ 250,00

O pagamento deverá ser feito por depósito ou transferência na seguinte conta:

Banco do Brasil
Agência: 3615-3
Conta Corrente: 200.160-8 (esp. gestão pública e sociedade)


OBS: Não esqueçam de entreguar cópia do comprovante para a coordenação (Édi, Prycilla ou Élida) no próximo módulo (19 e 20) do curso.

Atenciosamente

A coordenação

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Metodologia Científica - horários

Segue os horários da próxima aula da especialização:

Disciplina: METODOLOGIA CIENTÍFICA
Docente: Prof. Ary Carlos


Horários (bloco III, sala 21):


1º módulo (15 horas / aula)

Dia 05/06 (sexta feira)

NOITE
- 19:00 entrada
- 20:45 lanche
- 22:40 previsão término

Dia 06/06 (sábado)

MANHÃ
- 08:00 entrada
- 09:45 lanche
- 12:00 previsão término

TARDE
- 14:00 entrada
- 15:45 lanche
- 18:00 previsão término


2º módulo (15 horas / aula)

Dia 19/06 (sexta feira)

NOITE
- 19:00 entrada
- 20:45 lanche
- 22:40 previsão término

Dia 20/06 (sábado)

MANHÃ
- 08:00 entrada
- 09:45 lanche
- 12:00 previsão término

TARDE
- 14:00 entrada
- 15:45 lanche
- 18:00 previsão término